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“Schlagerns Mystik”, o modo sueco de dizer “A Mística da Música Popular” é o álbum de estúdio, gravado em 1978, onde as raízes tradicionais são óbvias, com a utilização de acordião, xilofone e guitarra acústica, mas transmutadas, com uma invulgar destreza, num ostensivo escárnio, ainda que protegido por uma candura infantil e uma leveza lúdica. Só a última faixa, “The Fate”, desvela as origens progressivas do conjunto.
“För Äldre Nybegynnare”, isto é, “Para principiantes mais velhos”, é o segundo álbum e reúne gravações de improvisações feitas ao vivo durante os anos de 1976 e 1977. A criatividade era ali sem limites e as soluções, no mínimo, inesperadas, contudo, um fenómeno de “estranheza familiar” (a freudiana “unheimlichkeit”), ao escutar o álbum, faz-nos duvidar do carácter de improviso destas faixas. Dúvidas que só podem, no entanto, ser elididas pela certeza de uma capacidade técnica instrumental e contrapontística a toda a prova, elogiada, aliás, por Chris Cutler ao considerá-los “a melhor banda de improvisação”a que já mais tinha assistido.
Ouçamos primeiro duas faixas do primeiro álbum – “At Ragunda” e “Not Margareta” – onde o humor impera tanto na música como na letra, nomeadamente, na segunda, que parece cantar apenas a história de uma menina marota, mas que afinal se revela ser sobre uma rapariga de má vida. Fiquemos depois com “Urmakare part.2” (Relojoeiro part.2), onde o génio da improvisação e da experimentação se exprimem inequivocamente, e “Moderna” que anuncia já a liberdade e a força de transgressão dos anos seguintes, com a ausência de limites tímbricos, de altura ou de intensidade, por vezes a tocar na desarmonia, na distorção e no ruído.
Tracklist:
LP 1 Schlagerns Mystik
1. At Ragunda (1:37) 2. Seasonsong (3:48) 3. Proffesion is the Amateur's Glue (2:20) 4. Buttonless (2:15) 5. Not Margareta (3:47) 6. Little Karin (4:15) 7. Asphaltsong (1:52) 8. Joosan Lost (0:25) 9. The Fate (17:00)
LP 2 För Äldre Nybegynnare
1. Watchmaker 1 (3:40) 2. Watchmaker 2 (2:29) 3. The Funktrap (2:45) 4. Short Inheritance (1:53) 5. The Modern (6:20) 6. Temporal You Are (2:32) 7. Harness in Memorandum (11:30) 8. To the Oval Meter (3:46) 9. Do You Think You Like Me? (5:15)
Line-Up:
- Hans Bruniusson / drums, xylophone, chimes, vibraphone, song - Eino Haapala / electric guitar, acoustic guitar, vibraphone, song - Lars Hollmer / electric piano, Korg polyphonic, Hohner-symphonic grand piano, accordion, song - Lars Krantz / electric bass, double-bass, acoustic guitar, song
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Esta é a 9ª crónica sobre a Lista de Nurse With Wound, uma bela oportunidade de encontrar um disco e uma agulha numa távola redonda de dissecação aritmética. Ora se abrirmos o número 9 em 3 partes, descobrimos que 9 é 3x3, ou seja, 3+3+3, e é por isso que trazemos hoje aqui “Vol. 333”, isto é, o 3º álbum de um projecto tricotómico de 33 artistas. Na verdade, era de uma trindade que se tratava, pois houve 3 motores nesta criativa máquina de triplicar: Walter retlaW uaerdouB Boudreau, o motor musical de L’Infonie, Claude Edualk Ts-Nyamreg St-Germain, o seu contador delirante, e Raôul luôaR yaugud Duguay, o motor verbal, o poeta. Este furor criativo começou no KébèK (Québec) no ano de 1967 e durou até 1974, num happening contínuo que agregava todas as formas de expressão, todas as influências musicais, visuais, performativas, todos os modos de inspiração meditativa, psicotrópica e contra-cultural. O nome de L’Infonie quer dizer, na primeira parte, “dedans le fun qui sonne” (dentro do fun que ressoa) ou loucura criadora; na segunda parte, “sinfonia interior”; na terceira, “música do infinito”. Os seus autores afirmavam-se herdeiros do movimento artístico e intelectual liderado por Paul-Émile Borduas, que a 9 de Agosto de 1948 escrevera o manifesto anti-establishment e anti-religioso “Le Refus Global”, fonte de inspiração para a “anarquia resplandecente” de L’Infonie, mas em vez de uma “recusa global” tratava-se agora de uma aceitação positiva e totalisante de todos os elementos culturais e expressivos que compunham esta roda triangular. Os seus discos revelavam uma liturgia psicadélica, um desejo sarcástico de agregação, uma dinâmica esquizóide de triangulação temporal. Aliás, o curriculum vitae que conta a história – nascimento, evolução e fim – deste projecto pode ser consultado numa antologia de 333 páginas e 3/3, ilustrada com 33 imagens (preto, branco e cor).
Vol. 333 é composto de 2 LP, que libertam poesia, canto, jazz, Bach, teatro de rua, experimentação acústica e radiofónica, instrumentos clássicos convencionais ou preparados, sarcasticamente envolvidos numa suite eucarística, com elementos concertantes e dissonantes. A audição destes discos exige por vezes uma escuta activa, noutras permite o relaxamento dos ouvidos. Seleccionámos, numa missão impossível de mostrar a variedade e riqueza deste projecto, o “Prelude”, 1ª faixa do 1º disco que abre com uma explosão orquestral que adormece lentamente numa improvisação jazzística e se apaga num cluster de órgão; “Prelude XXII”, do 2º disco, onde um momento bachiano se dissolve numa viagem burlesca pelo vaudeville de província; por fim, ouviremos apenas um excerto de “La Toune Platte”, a última faixa do álbum, com um pouco de jazz e drama. Usemos então os nossos três ouvidos para escutar, pois “o primeiro ouvido tudo dividiu, o segundo ouvido tudo multiplicou, [e] o terceiro ouvido tudo unificou”.
Tracklist:
LP 1 (Paix 1 à 50)
1. Prélude (2:56)
2. Section 1-17 (10:52)
3. Section 18 (6:37)
4. Section 19-23 (3:19)
5. Section 24-30 (8:43)
6. Section 31-32 (1:11)
7. Section 33-50 (9:12)
LP 2
1. Concerto en Ré Mineur (Allegro) (8:18)
2. Concerto en Ré Mineur (Adagio) (6:15)
3. Prélude XXII (6:53)
4. Kyrie (5:15)
5. Ubiquital (9:15)
6. La Toune Platte (10:04)
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Contra todas as aparências, porém, no verão de 1971 foi efectivamente gravado um álbum com o nome “Se taire pour une femme trop belle” que deveria ser lançado pela lendária editora francesa Futura que editara já, há data, outros nomes que figuram também na Lista: Jean Guérin, Jacques Thollot, Mahogany-Brain, Semool, Horde Catalytique pour la Fin, Bernard Vitet e Red Noise. Fille Qui Mousse era o projecto experimental do músico-jornalista Henri-Jean Enu, editor parisiense de “Le Parapluie”, publicação alternativa de inspiração “soixante-huitarde”, juntamente com os músicos François Guildon, Benjamin Legrand, Jean-Pierre Lentin, Dominique Lentin, Denis Gheerbrandt, Sylvie Péristéris, Léo Sab e a voz de Barbara Lowengreen, que dá nome à primeira faixa. À falta de melhor, pode dizer-se que é um grupo de rock experimental, mas só as primeira e última faixas de improvisação psicadélica se aproximam do que conhecemos por rock. Quanto ao resto, trata-se de experiências de estúdio, fragmentos de poesia sonora surrealista, colagens de ruídos e improvisações com instrumentos preparados e ainda um momento inspirado pelo folclore da bretanha com uma “vielle à roue”, correspondente à nossa “sanfona”. Os títulos das faixas são tão desconcertantes como os sons que emitem ou a letra em inglês do único “hit” pop de um minuto: “Magic-bag”. Em dezembro de 1971 o álbum era misturado, mas um ano depois apenas 10 a 12 cópias existiam, resultantes de testes em vinil prensado. A editora Futura atravessava problemas financeiros que impediram a edição oficial do disco. Contingência que somada ao facto de constarem de uma lista de música experimental rara e cobiçada criou um culto crescente entre os fanáticos do bizarro e do inusitado. Só em 2002, aparecia a edição fiável pela Fractal-records para acalmar as ânsias dos coleccionadores, objectivo impossível de cumprir, visto que a aura de legitimidade e autenticidade continua a acompanhar aquelas 10/12 cópias em vinil prensado.
Seleccionámos para escuta: “Princesse nuage”, uma experiência rítmica de embalar com percussão e cordas; “Amour-gel”, momento poético surrealista numa paisagem suburbana aparentemente nocturna, com cães a ladrar ao longe; a 9ª faixa, sem título, que consiste numa improvisação em guitarra eléctrica; e finalmente, a primeira faixa, “Barbara Lowengreen speed way”, rock psicadélico relativamente mais convencional.
Escutemos então aqueles que pelo seu experimentalismo e radicalismo já foram denominados como os “Faust franceses”!
Tracklist:
1. Barbara Lowengreen Speed-Way (5:46)
2. Mirroir Nagait Dans Le Lac Du Bois De Boulogne (0:57)
3. Princesse Nuage (2:00)
4. Amour-Gel (2:28)
5. Derrière Le Paravent (5:44)
6. Bubble Gun A Jacqueline Prothèse (1:26)
7. Tibhora-Parissall (1:06)
8. Magic-Bag (1:04)
9. [sem título] (3:06)
10. Gibet-Jasmin Ordination (3:07)
11. Annal-Mandreke-Cool Non Imperial News (8:30)
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Pierrot Lunaire – “Gudrun” (1976)
Esta semana seleccionámos da lista um álbum de referência do rock progressivo italiano de vanguarda: “Gudrun”. Trata-se do segundo LP dos Pierrot Lunaire, mais experimental e ousado que o seu primeiro, onde a inovação já era uma marca visível, mas incipiente quando comparado com este heteróclito mas consistente composto de classicismo, jazz, música de cena, recitativo barroco e sprechgesang, electrónica e colagens sonoras. Aliás, conceptualmente, o álbum é uma colagem de fotografias sonoras, pois entre cada faixa é na verdade possível identificar o ruído mecânico de uma máquina fotográfica, porém a luz difusa que provém da aura lunar que rege todo o disco não fixa, antes permite libertar um fluxo de paisagens musicais que evolui num ritmo subliminar e imperceptível. Apesar da inefabilidade que vela este álbum, trata-se de um trabalho estruturado e complexo, onde Arturo Stalteri, o pianista, compositor e poli-instrumentista (piano, órgão, glockenspiel, violino, guitarra) que lidera esta criação, mas também Gaio Chiocchio (guitarras, cravo, mandolim, sintetizador, sitar...) e a contralto galesa, Jacqueline Darby, investem a sua formação clássica e um espírito poético obviamente inspirado. Os poemas do simbolista belga Albert Giraud datam já de finais do século XIX (1884) e a revolucionária obra atonal de Arnold Schönberg de 1912, mas foi sobretudo o pós-modernismo americano das décadas de 60 e 70 que exerceu influência mais imediata sobre Arturo Stalteri, que mais tarde trabalharia a solo obras de Philip Glass, por exemplo. E pós-modernista é concerteza este álbum que reutiliza crítica mas também hedonisticamente experiências musicais e poéticas tão distintas.
Escolhemos três faixas para escutar. A primeira, “Gallia”, começa com a voz de Jacqueline Darby, num momento lunar que parece retirado de um dos poemas musicados por Schönberg e termina num caos de ondas hertzianas, não menos lunar. A segunda, “Sonde in Profondit”, é uma interrupção radiofónica de um programa de música popular italiana para a leitura de um boletim de guerra, onde surge subtilmente uma balada que desemboca numa mensagem telegráfica ultramarina. A terceira e última, “Morella”, demonstra os dotes pianísticos de Arturo Stalteri e o virtuosismo da cantora, numa explosão de emoção lírica, mas com um humor nocturno que faz recordar Satie.
Tracklist:
(LP)
1. Gudrun (11:27)
2. Dietro il silenzio (2:35)
3. Plaisir d'amour (4:43)
4. Gallia (2:11)
5. Giovane madre (3:47)
6. Sonde in profondit (3:33)
7. Morella (5:01)
(faixas extra no CD)
8. Mein Armer Italiener (5:15)
9. Gudrun (previously unreleased) (6:48)
10. Giovane madre (previously unreleased) (3:48)
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PLANETEN SESSION V (03.01.07)
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