Monday, June 11, 2007

DIE LISTE #22

Lemon Kittens – “We Buy a Hammer for Daddy” (1980)

O disco desta semana é de 1980 e, por isso, um item da lista adicional que foi acrescentada no segundo álbum de Nurse With Wound. Na verdade, ele nunca poderia fazer parte da primeira versão da lista, pois trata-se já de uma edição da própria United Dairies, a editora de Steven Stapleton. È o primeiro álbum do duo formado por Danielle Dax e por Karl Blake, Lemon Kittens. Dois jovens mas experimentados multi-instrumentistas, envolvidos nas artes performativas e nas instalações multimedia, influenciados, por um lado, pelo rock mais jazzístico da Cena de Canterbury e pela música de vanguarda de Brian Eno, por outro, pelos novos projectos pós-punk que abundavam em Inglaterra nos finais da década de 70, gravaram este psicótico “We Buy a Hammer for Daddy”, depois de um primeiro EP “Spoonfed & Writhing” que terá convencido Stapleton e Fothergill a lançarem este álbum que comunga bastantes afinidades electivas com a bizarria de Nurse With Wound.
O LP é inclassificável não só pela novidade e singularidade das suas composições e arranjos, mas porque de cada uma das 16 faixas para a seguinte nunca se sabe o que esperar, saltando de um género musical ou de um estado de humor para outro completamente diferente, conservando apesar de tudo a maestria da composição e uma estranheza sedutora, a que não será alheia a qualidade dos músicos. Se a primeira faixa “P.V.S.” faz lembrar a esquizofrenia dos The Pop Group (também na lista), a seguinte “Small Mercies” parece uma versão jazz dos irlandeses Virgin Prunes. No entanto, deve conceder-se que existe uma consistência estética que anuncia a angústia pré-apocalíptica das bandas de Dark Folk que circundarão Steven Stapleton, nos anos seguintes, não sendo de estranhar que os próprios membros de Lemon Kittens tenham colaborado mais de uma vez com os Current 93, por exemplo. Não cabe aqui a análise de cada faixa, não só pela sua variedade como pela sua elaborada complexidade, sendo mais útil escutar alguns faixas. Fiquemos com a primeira e a segunda do Lado A, a que já nos referimos, depois com “Evidence”, que abre com uma repetitiva sequência electrónica que logo se faz acompanhar de um enérgico rufar de bateria e à inesperada voz de Danielle Dax duplicada e até suportada por um coro virtual constituído pela multiplicação electrónica da sua voz. Em seguida ouçamos ainda o rock delirante de “These Men of Old England”, cantado por Karl Blake e a improvisão multi-instrumental das faixas copuladas “Wrist Job/Once Green and Pleasant Land” que alia jazz, folk, ruídos e manipulação de efeitos de estúdio.


Tracklist:

Lado A=L

1. P.V.S (1:55)
2. Small Mercies (2:03)
3. Coasters (3:48)
4. Up In Arms (2:34)
5. The American Cousin (1:50)
6. Evidence (2:25)
7. Rome Burning (1:31)
8. (Afraid Of Being) Bled By Leeches (2:14)

Lado B=K

1. Pain Topics (4:24)
2. Reversal 2 (2:34)
3. These Men Of Old England (2:25)
4. Wrist Job / Once Green And Pleasant Land (2:45)
5. Lycanthrothene (3:06)
6. Motet (3:10)
7. Throat Violence (2:28)
8. False Alarm (Malicious) (1:58)

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DIE LISTE #21

Ron Pate’s Debonair – “Raudelunas Pataphysical Revue” (1975)

O disco desta semana é mais um documento histórico do que um álbum de música no sentido convencional da expressão e de convencional nada tem este registo de um serão patafísico na cidade universitária de Tuscaloosa, no Alabama, em Março de 1975. Organizado para a inauguração da segunda exposição dos “Raudelunas”, um grupo heteróclito de anti-artistas, na contra-tradição de dadaístas e surrealistas, inspirados sobretudo pelo “absurdista” francês Alfred Jarry – que aliás criara a ciência patafísica -, trata-se de uma paródica revista ao estilo da Broadway, mas com estranhas particularidades como o facto de, a meio do espectáculo, um dos grupos “convidados”, os “The Captains of Industry”, serrarem o palco onde eles próprios actuam (pormenor que fascinou Steven Stapleton e que deu lugar cativo a este disco na famosa lista de que aqui tratamos). O Reverendo Fred Lane – o alter ego do escultor e criador de brinquedos movidos a vento, Tim Reed – é o anfitrião
do espectáculo que vai apresentando o concerto para sapos activos, os astronautas solitários (interpretados pelos The Blue Denim Deals Without the Arms) ou as principais divisões bélicas dos povos da Gália (pelos The Nubis Oxis Quarum), intercalando-os com pequenos momentos de humor e dando também um ar da sua graça, improvisando ao lado dos Debonairs de Ron Pate (o outro nome de Craig Nutt), num estilo mais jazzístico, tendo ainda tempo para um versão do famoso tema “Volare”, ou seja, da canção vencedora do Festival de SanRemo, em 1958, e escolhida para representar a Itália nesse ano no Festival da Canção, composta por Domenico Modugno, “Nel blu dipinto di blu”.
Musicalmente, se me for permitido adjectivar sem polémica o que aqui se ouve, consiste numa série cacofónica de música improvisada com elementos de free jazz (algumas referências a Ornette Coleman ou a John Coltrane, cheias de boa vontade) e algum swing, mas com momentos mais experimentais, “bruitisme” ao estilo de Russolo, ainda que um pouco mais orgânico, como no caso do “Concert for Active Frogs”, que vamos ouvir, e onde se manipula fita, instrumentos de sopro e objectos encontrados para soarem como uma orquestra de sapos, sem esquecer os sons de “bricolage” doméstica na pequena auto-destruição do fim do lado A. Fique
mos então com a quarta faixa, sob a direcção de Anne LeBaron: “Concert for Active Frogs”.


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Monday, June 04, 2007

Planetarische Umlaufbahn
ELOY - OCEAN

Eloy (escrito com “y”), não confundir com a alcunha do futebolista espanhol José Olaya Paredes nem com a cidade norte-americana do mesmo nome situada no Arizona, são um colectivo germânico que deriva o seu nome de “Eloi” (escrito com “i”), uma raça futurista do romance de ficção científica “The Time Machine” de H.G. Wells. Fundados em 1969 por Frank Bornemann, único elemento que se manteve constante nos sucessivos alinhamentos, e originários de Essen, os Eloy são citados, ora como grupo seminal de krautrock, ora como clássicos do rock progressivo, na linha de uns britânicos Yes.
A origem da espécie “Eloy” teve o seu fundamento primordial num magma de células sonoras “hard rock”, com afiliação ancestral nos Deep Purple ou Uriah Heep. Este início pouco inovador augurava um futuro limitado para esta nova raça, mas o seu processo evolutivo rapidamente revelou mutações genéticas que lhe asseguraram a sobrevivência. Assim, depois do primeiro álbum homónimo em 1971, atípico pela prevalência de referências políticas nas letras, Frank Bornemann toma as rédeas do microfone e da produção, acentuando significativamente as influências cósmicas. No segundo registo, “Inside” de 1972, a combinação de elementos do rock clássico com a psicadelia é bem mais notória, traçando as linhas mestras de um projecto que duraria mais de trinta anos.
Durante a década de 70 os álbuns conceptuais tornaram-se uma espécie de moda e, como raça futurista que se prezava, os Eloy não ficaram de fora, gravando “Power and the Passion” (1975) e “Dawn” (1976), discos onde podemos encontrar fantásticas histórias de viagens no tempo, criações divinas, para além de outras divagações mirabolantes. Esta tendência tem o seu auge com “Ocean” (1977), disco pontuado por quatro longas faixas que traduzem as grandes fases históricas do mítico continente da Atlântida (“Poseidon’s Creation”, “Incarnation of the Logos”, “Decay of the Logos”, “Atlantis’ Agony at June 5th – 8498, 13 P.M. Gregorian Earthtime”). As sonoridades deste oceano em vinil são pautadas por guitarras virtuosas, ritmos mecânicos e sintetizadores cristalinos. As letras, por seu turno, revolvem em torno da mitologia grega, e contam como o Homem perdeu o paraíso na terra devido à sua natureza violenta. Admitindo que não se trata propriamente de um tema muito original, a sua pertinência no contexto histórico-político da altura é inquestionável, já que se tratava de um aviso velado à ameaça nuclear, semelhante a “Radio-activity” dos Kraftwerk.
Depois de “Ocean” a senda desta raça prosseguiu por muitos e longos anos e, embora não sejam apontados como inovadores, experimentalistas ou percursores, aos Eloy reconhece-se, pelo menos, o mérito da introdução massiva de influências provenientes da ficção científica na música alemã dos anos 70.