Monday, June 11, 2007

DIE LISTE #21

Ron Pate’s Debonair – “Raudelunas Pataphysical Revue” (1975)

O disco desta semana é mais um documento histórico do que um álbum de música no sentido convencional da expressão e de convencional nada tem este registo de um serão patafísico na cidade universitária de Tuscaloosa, no Alabama, em Março de 1975. Organizado para a inauguração da segunda exposição dos “Raudelunas”, um grupo heteróclito de anti-artistas, na contra-tradição de dadaístas e surrealistas, inspirados sobretudo pelo “absurdista” francês Alfred Jarry – que aliás criara a ciência patafísica -, trata-se de uma paródica revista ao estilo da Broadway, mas com estranhas particularidades como o facto de, a meio do espectáculo, um dos grupos “convidados”, os “The Captains of Industry”, serrarem o palco onde eles próprios actuam (pormenor que fascinou Steven Stapleton e que deu lugar cativo a este disco na famosa lista de que aqui tratamos). O Reverendo Fred Lane – o alter ego do escultor e criador de brinquedos movidos a vento, Tim Reed – é o anfitrião
do espectáculo que vai apresentando o concerto para sapos activos, os astronautas solitários (interpretados pelos The Blue Denim Deals Without the Arms) ou as principais divisões bélicas dos povos da Gália (pelos The Nubis Oxis Quarum), intercalando-os com pequenos momentos de humor e dando também um ar da sua graça, improvisando ao lado dos Debonairs de Ron Pate (o outro nome de Craig Nutt), num estilo mais jazzístico, tendo ainda tempo para um versão do famoso tema “Volare”, ou seja, da canção vencedora do Festival de SanRemo, em 1958, e escolhida para representar a Itália nesse ano no Festival da Canção, composta por Domenico Modugno, “Nel blu dipinto di blu”.
Musicalmente, se me for permitido adjectivar sem polémica o que aqui se ouve, consiste numa série cacofónica de música improvisada com elementos de free jazz (algumas referências a Ornette Coleman ou a John Coltrane, cheias de boa vontade) e algum swing, mas com momentos mais experimentais, “bruitisme” ao estilo de Russolo, ainda que um pouco mais orgânico, como no caso do “Concert for Active Frogs”, que vamos ouvir, e onde se manipula fita, instrumentos de sopro e objectos encontrados para soarem como uma orquestra de sapos, sem esquecer os sons de “bricolage” doméstica na pequena auto-destruição do fim do lado A. Fique
mos então com a quarta faixa, sob a direcção de Anne LeBaron: “Concert for Active Frogs”.


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