Friday, April 06, 2007


Die Liste #16

Brainticket – “Cottonwoodhill” (1971)

“Depois de ouvir este disco, os seus amigos podem deixar de o conhecer” e “Ouça este disco apenas uma vez por dia. O seu cérebro pode ser destruído” eram os avisos contidos na capa do LP seleccionado esta semana. Quem o comprasse e começasse a ouvi-lo, acharia bem estranhos estes avisos ou pensaria tratar-se de um mero truque de marketing, pois as duas primeiras faixas – “Black Sand” e “Places of Light” – são, de facto, relativamente convencionais para a época do progressivo e do psicadélico: uma guitarra e vozes distorcidas, um ritmo minimal com tendências krautrock, pedais de efeitos wah-wah e, mais à frente, um ritmo groovy, ao gosto do funk; alguns solos de flauta entre o jazz e o folk, e, aqui e ali, apontamentos ácidos, mas não o suficiente para afastar os espíritos mais susceptíveis da nefasta perigosidade das drogas.

Mas eis que se ouvem estilhaços de vidro, passos e uma mota em fuga, seguindo-se-lhe uma sirene de polícia ou de ambulância e o pânico instala-se. O som do motor transubstancia-se nas acelerações de uma guitarra acompanhada pelas sequências cíclicas em anel de um órgão, de uma outra guitarra e do transe minimal repetitivo dos tom-toms da bateria, em movimento centrífugo e peristáltico. Efeitos sonoros, da escova de dentes ao martelo pneumático, potenciómetros e geradores rompem convulsivamente as trompas de eustáqueo, desviando as sinapses do seu trajecto neuronal para as extremidades capilares de um cérebro já em ebulição. Hipnotizado, o ouvinte volta o disco e, no seu lado B, prossegue essa má e assustadora “viagem” que as sirenes anunciavam logo de início e que Dawn Muir exprime delirantemente, sem qualquer redenção, até ao extremo da margem rotativa do vinil que se abre sobre o vazio catastrófico do silêncio.

Esta experiência que não se pode repetir mais de uma vez por dia, também não foi repetida pela maior parte dos membros de Brainticket que, depois deste insano “Cottonwoodhill”, em 1971, saíram do grupo para se juntarem aos bem mais convencionais Island, que se tornariam nos Toad, banda suíça de Hard-Rock, ficando apenas o teclista belga Joel Vandroogenbroeck para continuar no, ainda psicadélico, mas muito mais suave, “Psychonaut”.

O interesse desta escolha entre os muitos grupos da lista e, especialmente, deste disco, tem a ver, não só com a aura “kraut” desta formação helvético-flamenga, mas com o facto de aquela peça central e tripartida, homónima do grupo – “Brainticket”-, ter sido a inspiração directa de vários trabalhos de Nurse With Wound, nomeadamente, “Brained by falling masonry” de 1984, reeditada com Gyllenskold, em 1989, e revista numa remistura “inconsciente” em “Sugar Fish Drink” de 1992. Faixas com as quais comunga a estranheza perturbadora e o surrealismo desconcertante.

Ouçamos, então, uma só vez, a primeira parte de “Brainticket”.

Tracklist:

Lado A

1. Black Sand (4:05)
2. Places of Light (
4:05)
3. Brainticket, pt.1 (
8:21)

Lado B

1. Brainticket, pt. 1: Conclusion (4:36)
2. Brainticket, pt. 2 (
13:13)



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