Monday, April 02, 2007

PLANETARISCHE UMLAUFBAHN # 14 ORGANISATION – Tone Float

Em 1970, Ralf Hütter e Florian Schneider iniciavam a sua produção musical inseridos num quinteto denominado Organisation. Juntamente com Butch Hauf, Basil Hammoundi e Fred Monics (e, claro!, com a produção orientada por Conny Plank), os futuros Kraftwerk lograram conceber um disco que em muito pouco se associa às suas criações futuras e que obteve escasso reconhecimento do mercado levando a que o grupo se dissolvesse quase de imediato. O álbum respira psicadelismo, as composições são significativamente improvisadas e o tom é espontâneo, como no homónimo épico de abertura “Tone Float” em que um frenesim hipnótico pleno de múltiplas e subtis percussões cria um crescendo que desemboca num manto de flauta e órgão. A teia percussionista é, aliás, uma das pedras de toque do álbum (particularmente notório em “Tone Float” e “Rhythm Salad”), como o provam o recurso à bateria, bongos, maracas, campainhas, congas, glockenspiel, marimbas e triângulo.
A contemplação livre reveste-se de maior penumbra em “Silver Forest”, servindo “Noitasinagro” para Schneider dar conta do seu virtuosismo na longa distorção de violino no tema que encerra o álbum e que condensa todo o trabalho. “Milk Rock” oferece a mais clara amostra daquilo que viria a ser a parte inicial dos Kraftwerk – domínio da linha de baixo com deambulações da flauta de Schneider e do órgão de Hütter.
Pode dizer-se que no universo das produções dos Kraftwerk, é na sua estreia enquanto Organisation que recai de forma mais clara a etiqueta kraut – com todas as imprecisões que decorrem desta catalogação… –, facto curioso se pensarmos que é também este o registo que mais os afasta do imaginário kraftwerkiano. De resto, Ralf Hütter revela esta simbólica descrição: «The studio was in the middle of an oil refinery. When we came out of the door we could hear the sound of those big flames burning of the fumes – all kinds of industrial noises».
“Tone Float” encerra a faceta surpreendentemente caótica no percurso daqueles que um dia tiveram a sua presença associada à disciplina quase obsessiva das suas composições. Este disco assume-se quente e emotivo, aludindo a horizontes mais longínquos e exóticos do que as frias paisagens industriais de Düsseldorf.

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