Thursday, May 24, 2007

DIE LISTE #19

Älgarnas Trädgard – “Framtiden Är Ett Svävande Skepp, Förankrat i Forntiden” (1972)

“O futuro é um navio flutuante, ancorado no passado” é a tradução para português do título deste disco de 1972, o primeiro álbum do grupo sueco Älgarnas Trädgard. E de facto, é isso mesmo que nos oferece este LP, uma ronda futurista à tradição medieval do rock que brotou saturninamente da Suécia, embora celebrando a força verde da vida que se expandia por todo o universo. É claro que no início da viagem convém munirmo-nos de um bouquet florido e respirar o pólen colorido e ácido, para compreendermos a livre associação da inspiração mística de Hildegarde von Bingen – na teofania ecológica da sua Viriditas - com os efeitos eléctricos e panecóicos, nos anéis de Saturno. Contudo, neste Jardim de Alces (- é o que significa o nome do grupo), pastoreavam hippies suecos, que sonhavam lucidamente e com os ouvidos abertos aos sons que chegavam da Alemanha – não sendo difícil encontrar referências a Ash Ra Tempel, Amon Dull II ou mesmo Tangerine Dream. O uso que fizeram do estúdio como mais um instrumento entre outros (cuja variedade é ostensiva neste caso: desde violinos e tablas aos teclados e às guitarras eléctricas), faz ressoar as experiências de Faust e de Can.
“Duas horas sobre duas montanhas azuis com um relógio de cuco de cada lado, [de cada lado] das horas...entenda-se”, ou seja, o início deste inusitado álbum que mistura folk e ficção científica, que é marcado pelo bater de sinos soturnos de onde emergem gotas psicadélicas e o repicar choroso do baixo eléctrico, sob os solos entrecruzados da rebeca e da guitarra. Mas esta longa primeira faixa só termina depois de uma lúgubre marcha medieval que evolui numa amálgama anacrónica de organum perotiniano, osciladores, êxitos pop, sintetizadores e whitenoise. Mas “há um tempo para tudo, há um tempo para quando até mesmo o tempo se há-de reencontrar” numa dança jogralesca, rodeada de cães que ladram, ou numa raga indiana embalada pelo sitar. Revertidas numa balada, em “Children of possibilities”, ou circulando numa ronda rural, em “La Rotta”, voltamos à influência do folk. Viriditas introduz-nos no mundo onírico e inspirado da comunhão ecológica com o universo. “Rings of Saturn” é a mais familiar incursão no space rock, ainda que floresça repentinamente, como um cogumelo num terreno húmido, uma abertura hiperespacial no final da faixa. Para finalmente chegarmos ao navio encalhado, propriamente dito, entre o passado feito de escombros flutuantes e o futuro de bandeiras desfraldadas. Fiquemos com “There is a time for everything, there is a time when even time will meet” e depois “Viriditas”.

Tracklist:

1. Two hours over two blue mountains with a cuckoo on each side, of the hours...that is (13'13")
2. There is a time for everything, there is a time when even time will meet (6'11")
3. Children of Possibilities (3'12")
4. La Rotta (1'41")
5. Viriditas (3'00")
6. Rings of Saturn (7'15")
7. The future is a hovering ship, anchored in the past (5'07")

Labels:

0 Comments:

Post a Comment

<< Home