Thursday, May 22, 2008


DIE LISTE #54

Guru Guru – “Känguru” (1972)

“Käng Käng?” – pergunta a mãe canguru; “Guru Guru!” – responde o filhote, espreitando timidamente fora do marsúpio. Se a isto acrescentarmos que a canguru nos olha, enquanto se equilibra numa paisagem glaciar, obtemos uma descrição sucinta da capa deste terceiro álbum dos Guru Guru, editado pela Brain records em 1972. Uma capa que exprime o humor desconcertante, sempre à beira do absurdo, de um dos mais relevantes grupos do krautrock. Com a mesma formação dos dois anteriores – Mani Neumeier, Uli Trepte e Ax Genrich -, este álbum completa para a maior parte dos críticos o arco trilógico, que começa em “UFO”, o ousado e extravagante 1º LP, e passa por “Hinten”, um pouco mais focado mas menos temerário, para acabar em “Känguru”, para alguns, o mais bem conseguido da carreira dos Guru Guru, opinião para a qual o facto de ter sido produzido pelo lendário Conny Plank não será alheio. A nossa escolha, porém, prende-se mais com o facto de este ter sido um dos álbuns, a par de “Psychedelic Underground” dos Amon Düül, que fez Steven Stapleton entrar no mundo do krautrock e que provavelmente deu um belo ponto de partida para construir esta lista de que vimos falando à cerca de ano e meio. Aliás, estes álbuns tiveram um tal impacto na vida do jovem Steven Stapleton que pouco tempo depois o fizeram viajar, com o seu colega Eman Pathak, para a Alemanha em busca destes ídolos, acabando por se tornar roadie dos próprios Guru Guru e dos Kraan, uma outra banda de krautrock da época.
Composto de quatro faixas, todas de duração superior aos dez minutos, fazendo dele um LP particularmente longo, divididas quase simetricamente pelos dois lados do disco, apresenta uma estrutura mais equilibrada do que nos álbuns anteriores, não perdendo no entanto a loucura e energia psicadélicas que o uso de substâncias ilícitas não permitiu disfarçar. A característica a destacar será, todavia, a do sentido de humor, não só visual, mas também vocal, que permite aligeirar e libertar uma estrutura composicional que, na sua ausência se poderia tornar demasiado pesada, isto sem prejuízo dos momentos que cortejam o “heavy blues”. A sensação de liberdade provém ainda da disposição experimental free-jazz do baterista Mani Neumeier mas também do uso de efeitos de estúdio e de uma subtil electrónica, que expande o conceito de “space” ou “acid rock” que viu nascer o projecto em 1968, quando ainda se chamavam Guru Guru Groove Band.
A faixa que temos vindo a ouvir, “Oxymoron” abre o disco languidamente, mas rapidamente, talvez a custo dos pedais de efeitos e de um guitarrista virtuoso, se desenvolve para um delírio de blues psicadélico, que a secção rítmica deixa respirar. As vocalizações, muito raras nos discos anteriores, acentuam a derisão e o dadaísmo latente. Segundo uma entrevista dada pelos membros da banda, “oxymoron” refere-se a algo que parece muito bom, que sabe muito bem, que cheira bem, mas que está estragado e que que faz muito mal. “Algo” é apenas um eufemismo para um artigo enteógeno. “Immer Lustig”, sempre muito engraçado, começa com um espírito circense e simula uma marcha germânica proto-punk, mas bem cedo regressa à languidez psicadélica onde Ax Genrich parece cantar através da sua guitarra, numa homenagem a Jimi Hendrix. Sensivelmente a meio da faixa as drogas produzem o seu efeito e a deriva psicotrópica assume o comando, para o momento mais experimental de todo o álbum. Do lado B, “Baby Cake Well” tem reminiscências do primeiro álbum, UFO, no que respeita à sua agressividade e a algum caos que sobrevive, mutatis mutantis. Por último, “Ooga Booga” recupera os excessos derisórios que a letra inarticulada e a ludicidade percussiva de Neumeier regista como a marca predominante de todo o “Känguru”. Fiquemos agora com “Immer Lustig”.

Tracklist:

Lado A
1 Oxymoron (10:33)
2 Immer Lustig (15:37)

Lado B
1 Baby Cake Walk (10:57)
2 Ooga Booga (11:11)

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