Thursday, May 22, 2008


DIE LISTE #52

Chillum – “Chillum” (1971)

Chillum é um cachimbo normalmente feito de gesso, corno de boi, pedra e, nos dias de hoje, também se encontram alguns feitos de vidro ou madeira. Mas o chillum começou a ser usado no século XVIII, na Índia dos sadhu e, por isso, num contexto enteógeno. Esta palavra estranha que não se encontra no dicionário, e que é um anglicismo bizarro construído a partir do grego, refere-se ao uso religioso ou xamânico de substâncias psicotrópicas que induzem experiências extáticas. Na verdade, na cultura hippie dos anos 60 e 70 ela tornou-se um sinónimo de psicadélico. É isso mesmo que induz o disco desta semana: Chillum, que é o único LP desse projecto homónimo que surgiu precariamente das cinzas dos Second Hand, um grupo inglês (também ele incluído na lista) que cruzou a cultura psicadélica com esboços do rock progressivo e, ainda, com um travo a Canterbury, que o órgão de Ken Elliot não desmente. E a música, editada pela Mushroom Records em 1971, também confirma a inspiração enteogénica do chillum, essencialmente constituída de longos jams instrumentais onde os músicos previsivelmente alienados pelo seu umbilical enamoramento com os respectivos instrumentos conseguem com grande surpresa construir faixas de inesperada consistência.
Uma marca de humor com evidentes referências no grupo da BBC, Monty Python’s Flying Circus abre e fecha o álbum, primeiro com uma introdução feita por cirurgiões gumby, depois com um satisfeito comentário pela bela “Promenade des Anglais”. Limitado, porém, por essas duas marcas, abre-se um longo e embalado trajecto que estica o miolo cerebral qual liana infinita numa selva de cogumelos de fumo azul. Como um jogo de lógica num tabuleiro oriental de xadrez multicolor em que um regimento de cartas se decapita a duas dimensões para encontrar a conclusão silogística de uma rainha sem terceiro excluído, “Brain Strain” ilude a passagem do tempo à medida que preenche todo o lado A do álbum. Voltando o disco, a viagem continua mas desta vez é Morfeu o gúrú gúrú de um passeio encantado mas breve pela terra dos mil sonhos, sem José para nos dar uma chave de interpretação. Porque não há vacas magras, nem searas ao vento, ou mesmo trigo seco, somente “Too Many Bananas” num eufórico ritmo percussivo que faz desfilar ratos mickey bailarinos vestidos com folhas de palmeira num desenho animado mudo onde o amarelo do fruto absorve o preto e branco do celulóide. “Yes! We have no pajamas”, agora num quarto de hotel com telas em vez de paredes, onde escorrem dançando eroticamente figuras esfumaçadas num teatro de sombras indonésio com cobras venenosas como únicos espectadores. Afinal era só a cauda do gato que queria esticar a felina lã dos bigodes de Cheshire, num cínico sorriso sobre o passeio dos ingleses, que permanentemente de desviam dos sikhs chupando o seu cachimbo de canábis. O exercício é estéril se não ouvirmos a música, por isso, fiquemos com um excerto do longo “Brain Strain”. Mais atrás ouvíamos o muito funky “Yes! We have no pajamas”, praticamente saído da trip sonora de um Fritz the Cat.


Tracklist:

Lado A
Brain Strain

Lado B
1 Land Of Thousand Dreams
2 Too Many Bananas
3 Yes! We have No Pajamas
4 Promenade Des Anglaises

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