Friday, March 21, 2008


DIE LISTE #44

Wolfgang Dauner – “Output” (1970)

Quem escutar a primeira faixa do álbum “Sugar Fish Drink” de NWW – Cooloorta Moon – e estiver familiarizado com o genérico destas crónicas, reconhecerá concerteza a melodia que a inicia. Steven Stapleton inspirou-se directamente no tema “My man’s gone now” do álbum “The Oimels” do excêntrico músico alemão Wolfgang Dauner, que, como não poderia deixar de ser, figura na tão famigerada lista. Mas não é esse o álbum que aqui trazemos hoje, não obstante ter sido esse que o Audion Guide escolheu. O álbum de que hoje aqui se fala é alegadamente o favorito de Steven Stapleton e, na humilde opinião do autor destas crónicas, bem mais interessante que o anteriormente referido: “Output”. Mesmo no mapa acidentado de Wolfgang Dauner, trata-se de um álbum ímpar e, como muitos dos discos já aqui trazidos, inclassificável; podendo as muitas pistas que rodeiam a sua edição revelar-se ilusivas.
O disco foi gravado em duas sessões: a 15 de Setembro e 1 de Outubro de 1970 no Tonstudio Bauer, em Ludwigsburg, com a produção de Manfred Eicher, cujo trabalho haveria de se tornar reconhecido e identificado com os discos da famosa editora de Jazz progressivo ECM. E, na verdade, este disco seria uma das primeiras edições da ECM, mas o som ousado e experimental de “Output” destoa do acabamento polido e sofisticado, quase asséptico, a que aquela editora nos habituou. Tal como não é possível falar sem polémica de jazz, ou de rock, ou mesmo de jazz de fusão para catalogar este disco de Wolfgang Dauner, que mistura de modo inovador o piano, o modulador em anel e o orgão Hohner electra-clavinet C, abrindo as portas a uma espécie de free jazz electrónico. Aliás, este músico idiossincrático e camaleónico sempre se afastou das convenções e frustrou expectativas, num percurso de vida e obra invulgares. Apesar de educado por uma tia sua, professora de piano, começou por trabalhar como mecânico, só mais tarde levando a música a sério. Tendo passado brevemente pela Colégio Musical de Estugarda, preferiu auto-educar-se e afastar-se da postura tradicional do músico-intérprete para tornar cada uma das suas performances um espectáculo de experimentação musical e teatral. Com o trio que formou, em 1963, com os músicos Eberhard Weber (cordas) e Fred Braceful (percussão e voz) – os outros dois que também marcam presença neste álbum – fez sensação em festivais de música alemães durante os anos 60, sobretudo pelo estilo ousado e não convencional das suas performances que podiam acabar com um piano incendiado em palco ou violinos destruídos ou ainda envolver as cabeças de todos os membros de um grupo coral encapuçadas com meias de nylon de forma a distorcer o seu desempenho. Colaborou com nomes importantes como Jean-Luc Ponty, Chick Corea e mesmo com Mani Neumeier, o percussionista dos Guru Guru, fazendo ainda carreira nos anos 70 com os grupos de jazz-rock Et Cetera e United Jazz and Rock Ensemble e nunca interrompendo as suas experiências de fusão, ópera, bailado nos anos 80 e 90.
O LP Output, que nunca foi reeditado em CD, é composto por seis faixas, três em cada lado do disco. “Mudations” abre o álbum de maneira nostálgica e melancólica, como se no fim de uma longa e atribulada viagem, invertendo assim a experiência do tempo na audição do disco, já que logo de seguida, “Output” irrompe abruptamente num caos criativo de electricidade e improvisação sem barreiras, onde não falta o ruído e a distorção, agoirando os tempos ainda por vir. “Bruch” simula acusticamente os cortes, os rasgões, o estilhaçamento e as fracturas nas fórmulas e estruturas musicais convencionais. Do lado B, “Nothing to declare” é a única faixa do álbum que faz lembrar o “modus operandi” do jazz com os seus jogos contrapontísticos e os seus solos, no entanto, o timbre do clavinet C, um pequeno órgão eléctrico da Hohner, dá-lhe uma sonoridade peculiar, que na faixa seguinte, “Abraxas”, nos transporta para um certo orientalismo mediterrânico. Na despedida, “Brazing the High Sky Full” funde, numa disposição alienígena mais do que cósmica, os metais percussivos com as irrupções abrasivas da distorção electrónica, num ambiente de estúdio cheio de efeitos especiais. Ouçamos agora “Nothing to Declare”, depois de termos sido acompanhados em fundo pela faixa “Output”.

Tracklist:

A1 Mudations (5:45)
A2 Output (7:42)
A3 Bruch (4:15)

B1 Nothing To Declare (10:40)
B2 Abraxas (4:24)
B3 Brazing The High Sky Full (4:25)

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