Friday, November 16, 2007

DIE LISTE #38

Brainstorm – “Smile a while” (1972)

“Sorri um momento” é o apelo do disco desta semana. Mas o mais provável é um esgar ou, ainda mais previsivelmente, um surto de vómitos em vez de um sorriso, quando os olhos se deparam com a capa do primeiro álbum dos Brainstorm. Na verdade, o gosto duvidoso dos alemães é uma característica bem conhecida, mas a indecência chocante do trabalho gráfico deste grupo, oriundo da rica cidade termal de Baden-Baden, valeu-lhes já a inclusão em várias listas de “piores capas de discos de sempre”! Talvez seja um pouco de exagero, pois afinal não passa senão de uma simples fotografia do grupo em lingerie branca e com um pouco de “blush”. Mas não deixa de ser significativo, revelando um sentido de humor peculiar que é uma marca expressiva deste projecto também na música, influenciada desde logo por Frank Zappa, um outro humorista musical, e pelas experiências eclécticas de Canterbury. Num primeiro momento, a ascendência inspirada de “A Saucerful of Secrets” poderia explicar que se tivessem chamado Fashion Pink, mas a herança dos Mothers of Invention teria causado uma declinação para Fashion Prick e uma corrrespondente deriva para o ecletismo nervoso entre o rock e o jazz de fusão. Em 1972, apenas o bom senso da Spiegelei Records terá evitado uma catástrofe editorial, ainda que não suficiente para evitar a reprodução fotográfica na capa de “Smile a While”, forçando-os a mudar o nome para Brainstorm.
Camaleónica, a capacidade e velocidade de transformação não foi, nos Brainstorm, meramente onomástica. A formação musical dos membros do grupo permitiu-lhes, em “Smile a While”, fazer variações rítmicas rápidas, experimentar arranjos instrumentais complexos, oscilar entre a euforia da improvisação e a ponderação das notas no pentagrama com o à vontade que os anos de conservatório lhes haviam concedido. A maestria musical é proporcional à versatilidade e variedade instrumental de todos os membros do grupo, mas é inevitável mencionar o saxofonista que não só afirmou elegantemente a sua presença ao longo de todo o álbum, como se destacaria mais tarde por ser um dos membros dos famosos Guru Guru: Roland Schaeffer. Se, no entanto, a etiqueta do krautrock, apesar de serem uma banda de rock do sudoeste alemão com uma atitude experimental e de terem sido a incubadora desse membro dos Guru Guru, seja discutível, não pode deixar de se notar a influência dos Soft Machine ou dos Caravan, sobretudo neste álbum, que quase lhes permitiria ser a secção germânica de Canterbury. Desde a primeira faixa, “Das Schwein trügt” – O porco engana – que é como quem diz “Der Schein trügt” – As aparências iludem – que o humor e o estilo não enganam: tratar-se-á de um momento lúdico, cheio de trocadilhos verbais e rítmicos. Destacaremos um tema longo e triplo do lado A: Bosco Biatti (1º segmento) Weiss (2º segmento) e, finalmente, Alles (o último). O saxofone de Schaeffer domina a primeira parte, depois Joe Koinzer desenvolve um solo de bateria para um regresso violento e manifesto ao som da Cantuária que nem as experimentações vocais de Eddy van Overheidt permitem encobrir.
Gozemos.

Tracklist:

Lado A
1. Das Schwein Truegt (4:40)
2. Zwick Zwick (4:40)
3. Watch Time Flow By (1:29)
4. Bosco Biati WeiB Alles (8:59)

Lado B
5. Snakeskin Tango (2:20)
6. Smile A While (15:34)
7. You Are What's Gonna Make It Last (live) (3:31)
8. Don't Forget (live) (0:25)

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