Saturday, October 13, 2007


DIE LISTE #32

Kollektiv Rote Rübe & Ton Steine Scherben – “Paranoia” (1976)


Espelho de uma época criativa e agitada em termos socio-políticos, a lista de NWW contém vários nomes de projectos politicamente muito conscientes, como aliás já pudemos constatar com os suecos International Harvester, o chileno Alvaro ou os alemães Checkpoint Charlie. O disco desta semana é mais um exemplo disso mesmo, desta vez, resultando de uma colaboração criativa entre dois grupos alemães: os Kollektiv Rote Rübe e os Ton Steine Scherben. Dos primeiros pouco se sabe, para além do facto de se tratar de um grupo de teatro de intervenção, sediado em Munique, que partilhava com o segundo a ideologia de esquerda, sobretudo nas suas expressões mais radicais. Tal como o grupo de Munique, mas bem mais conhecidos, os Ton Steine Scherben, originários de Berlim, foram um grupo musical bastante empenhado politicamente e liderado pelo controverso cantor Rio Reiser, que mais tarde viria a participar activamente na vida política do Partido dos Verdes e do PDS alemão, logo após a reunificação. Sobretudo conotados com a nova esquerda e o movimento “squat” (de ocupação dos muitos edifícios abandonados em Berlim), nos anos 70, as suas ideias anarquistas e anti-capitalistas aproximaram-nos numa primeira fase do grupo terrorista da RAF (a Rote Armee Fraktion ou Facção do Exército Vermelho, um grupo de guerrilha urbana comunista que nos primeiros tempos ficara conhecido como o grupo Baader-Meinhof). A sua popularidade junto dos grupos mais radicais foi mesmo empolada por algumas episódios lendários como a vez em que o palco onde actuavam começou a arder, alegadamente por acção do pessoal da segurança que havia sido alertado da fuga dos organizadores do evento com todas as receitas recolhidas. O grupo ficou ainda conhecido pelas causas que abraçou, para além da ecologia, a dos direitos de libertação da mulher e dos homossexuais. O título deste álbum e de um outro, também resultante de uma colaboração entre os dois grupos, “Liebe Töd Hysterie” de 1979, deixa adivinhar a influência das leituras psicanalíticas da líbido social, provavelmente, da Escola Crítica de Frankfurt.
Gravado em Munique, entre 1975 e 1976, mas misturado no Alsterstudio, em Hamburgo, por Richard Borowski, o álbum é composto de canções num estilo de cabaret de extrema esquerda, cuja composição é sobretudo da responsabilidade dos Ton Steine Scherben e a interpretação dramatizada do “Colectivo da Beterraba Vermelha”. Musicalmente, apresenta um estilo muito livre que vai da canção popular às experiências vanguardistas do Rock In Oposition, passando pelo “disco” e pelo drama radiofónico, encenado de uma forma teatral onde abundam os rasgos de histeria dramática, mas também alguma poesia. O tom dominante é revolucionário, o humor é negro e a táctica o choque, não faltando a versão do “Deutschland Über Alles” em guitarra eléctrica distorcida ou os discursos de Hitler entrecortados com tiradas anarquistas contra a burguesia e a sociedade capitalista. Escutemos a primeira faixa, a abertura cabaret do álbum; logo depois a quinta faixa, que dá o nome ao disco “Paranoia”, que parece ser uma metáfora pequeno-burguesa dos terrores da sociedade de controlo e que tem a particularidade de conter um dos “samples” utilizados por Steven Stapleton nos seus primeiros discos (“"Ich will nicht, Papa.."). Por fim, escutemos “Eine Tote zuviel” (“Uma morta a mais”), uma agressiva história de um assassínio parlamentar.

Tracklist:
01:Entree (3:13)

02+03:Manchmal wenn ich so dasitze (5:35)[sometimes when I sit there]

04:Nie wieder (0:47)[Never Again]/Die Zeiten sie ändern sich (0:43)[The Times are changing]

05:Paranoia (3:43)

06:Taifuns Traum (3:18)[Taifuns Dream]

07+08:Song der Hure Holly (4:11)

09:Das Paradies (1:10)[The Paradise]

10:Song der Emma P. (3:23)[Song of Emma P.]

11:Zeitmaschine (1:34)[timemachine]

12:Eine Tote zuviel (4:33)[One dead woman too much]

13:Horrormäuse (0:51)[horrormice]

14:Miss Lissy Lamour (3:09)


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