Sunday, September 09, 2007

TONY CONRAD & FAUST: OUTSIDE THE DREAM SYNDICATE (1972)


A colaboração dos Faust com Tony Conrad evidencia de forma notavelmente transparente uma das premissas que esteve na base do movimento da música alemã que aqui destacamos, ao acoplar o virtuosismo e a genialidade de músicos de um grupo rock à directa introdução das castas mais vanguardistas da música contemporânea experimental - característica que, aliás, se confunde com os próprios Faust. O resultado final combina o minimalismo e os drones eternos de Conrad com a marca pulsante e hipnótica da conjugação dos elementos dos Faust que participaram na gravação do álbum – Jean-Hervé Péron no baixo, Werner “Zappi” Diermeier na bateria, Robert Sosna nos sintetizadores e Uwe Nettelbeck na produção.
Desde o início da década de 60 que Tony Conrad integrou o “The Theatre of Eternal Music”, um colectivo experimental de músicos – juntamente com La Monte Young, John Cale, Marian Zazeela e Angus Maclise – que esteve na origem da explosão do minimalismo na música. O grupo combinava a amplificação eléctrica com teclados, percussões, notas rasgadas e dissonantes de guitarra, focando-se nos detalhes microtonais. Conrad, no entanto, cunhava o seu contributo no uso da dissonância e nas especificidades da distorção, algo transportado para os Velvet Underground por John Cale. No início do Outono de 1972, Conrad, que possuía já algum background pelos circuitos cinematográficos experimentais, encontrava-se pela Alemanha ocupando-se de uma instalação de La Monte Young sobre os Jogos Olímpicos de Munique (“Documenta”) pelo que a sugestão de uma eventual colaboração futura uma vez deixada por Nettelbeck em Nova Iorque, tinha então uma boa oportunidade de consumação.
A atmosfera comunal de Wümme terá favorecido o tom hipnótico dos registos gravados, plenos de batidas metronómicas, persuasivas espirais de violino e linhas impecavelmente delineadas de baixo, sugerindo uma deliberada impessoalidade onde simples relações entre elementos criam ilusórias percepções de complexidade desajustadas face aos meios empregues.

“There was this people hanging around out there, i didn’t know who they were. It was this people Faust. And they had been, to some substantial degree, incarcerated in this farmhouse for months, and they had they partners and sexual liaisons and different social complexities enacted on a long-term basis within this farmhouse. It was a microcosm, where everything seemed to have been evolving in some strange way over the course of months and months. It was no wonder that they really didn’t have a lot of involvement with me, and I thought of them as musicians that I could use in my record. But Uwe said that they wanted to do stuff too, so we did one that was my style, and one that was more like a rock’n’roll style. That’s how there’s two sides. They don’t remember working with me… there were probably many reasons for that, including the fact that somebody must have been burning a pot field around were they were working, because there was so, so much pot smoke in the air. It was incredible. And who could remember anything under those conditions…”.
Tony Conrad in Faust, Stretch Out Time:1970-1975, Wilson, A. (2006)

“From the Side of Man and Womankind”, o “lado de Conrad”, assume-se como um manifesto minimalista, onde mudanças de timbre e de ritmo são quase imperceptíveis. O baixo e a bateria criam uma espécie de batimento cardíaco enquanto o violino de Conrad vai respirando e gritando sem, no entanto, se mover. “From the Side of the Machine”, o “lado dos Faust”, revela-se menos mecanizado; as notas de baixo libertam-se, as batidas adquirem alguma dose de ritualização e Sosna fornece ondas de space synthesizer que acolhem a alta tempestade eléctrica do violino de Conrad.
A edição do álbum marcou a possibilidade de uma editora de cariz popular (a Caroline, subsidiária da Virgin) lançar um álbum de inspiração clássica ou avant-garde, tornando-se “Outside de Dream Syndicate” a primeira versão de um registo do Teatro da Música Eterna a ser acessível em disco, permeabilizando as fronteiras entre a arte erudita e arte popular.
Em 1992 a edição em CD vê a luz do dia (Table of the Elements) e dez anos mais tarde, em edição comemorativa do trigésimo aniversário da sua gravação, mais material que havia sido gravado é incluído (“The Dead of the Composer was in 1962” e “The Pyre of Angus was in Kathmandu”). Também eterno.

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