Tuesday, July 03, 2007


DIE LISTE #25

Arzachel – “Arzachel” (1969)

Arzachel é uma cratera de impacto situada nas terras altas da parte central-sul da face visível da lua e deriva a sua denominação da latinização do nome do grande astrónomo árabe do século XI, Al-Zarqali. Mont Campbell reparou um dia, colado nas paredes da sua casa de banho, num póster com as crateras da lua e deu aos seus colegas a ideia de usar aquele nome para pôr na capa de um disco que acabavam de gravar em oito horas! Na verdade, os quatro amigos, que se tinham conhecido no liceu, haviam tido uma banda de nome Uriel, mas um deles (Steve Hillage) saíra da banda para ir para a universidade e os outros três haviam formado uma outra, os Egg, que tinham acabado de assinar um contrato com a famosa editora Decca. Como parecia mal gravar agora um disco para outra editora, usaram pseudónimos, inspirados nos seus professores de escola mais odiados, para si mesmos e, outro retirado de uma casa de banho, para a própria banda. Este terá sido portanto o disco nunca gravado dos Uriel e o único disco de uma banda que não existiu, os Arzachel. Tal obscuridade valeu-lhes no início o total fiasco nas vendas, mas com o passar dos anos e das lendas tornou este disco mais uma daquelas raridades tão cobiçadas pelos coleccionadores. O interesse do disco não está porém nestas anedotas históricas nem na valorização económica do álbum, mas na sua peculiaridade discográfica e criativa.
Não se sabe que substâncias psicotrópicas terão ingerido os quatro músicos ao gravar este disco ou mesmo se os técnicos do estúdio estariam sob o efeito de drogas naquelas oito horas – o que não seria de estranhar naquele ano de 1969 e a julgar pela instabilidade da gravação -, no entanto, pode ouvir-se aqui o que muitos consideram ser o mais psicadélico dos álbuns gravados em Inglaterra. E os miúdos, que haveriam de ter carreiras famosas (nos Gong, Egg, National Health ou Khan), não tinham sequer 20 anos quando gravaram “Garden of Earthly Delights”, a peça que abre o disco de um modo relativamente convencional, mas onde sobressaem já os clusters de órgão de Dave Stewart (o verdadeiro nome de Sam Lee-Uff) e os solos de guitarra de Steve Hillage (pseudo-creditado como Simeon Sasparella). A segunda faixa, “Azathoth”, tem uma força hipnótica que rapidamente nos atrai numa espiral de ruído para o centro do universo, governado por essa negra divindade do imaginário de H. P. Lovecraft. A distorção é uma das marcas da música psicadélica, mas é epitomizada de forma magistral nesta pequena faixa. “Queen St. Gang” continua o delírio anterior, ainda que com a máscara da contenção. “Leg” reenvia para uma das grandes influências manifestas neste álbum, o blues, porém, o encantamento triste das margens do delta é aqui arrastado por uma violenta catadupa, a que não é alheia a energia investida pelo baterista, Basil Dowings (ou Clive Brooks, de seu nome de baptismo), conhecido por ter já na altura partido quatorze baquetas em bares onde haviam tocado. Vira-se o disco e no lado B, encontram-se apenas duas faixas longas. A primeira, “Clean Innocent Fun”, é mais uma libertação de energia, a acreditar nas declarações do elemento mais africano do grupo, Njerogi Gategaka (também conhecido por Mont Campbell), onde afirma que “a música deriva do desejo sexual”. Mas o final do disco é um épico monumento à experimentação e ao desvio psicotrópico: “Metempsychosis”, que admite, como o nome indica, a transmigração das almas entre os corpos dos quatro membros para criar uma fusão megalítica de electricidade e distorção. Comecemos de mansinho com “Azathoth” e depois ouçamos, mas apenas até ao fim do tempo regulamentar, “Metempsychosis”, pois na sessão de gravação decidiram acabar a faixa quando, de olhos postos no relógio do estúdio, acharam que já tinham o suficiente para ter um álbum completo.

Tracklist:

Lado A
1 Garden Of Earthly Delights (2:45)
2 Azathoth (4:22)
3 Queen St. Gang (4:25)
4 Leg (5:42)

Lado B
1 Clean Innocent Fun (10:26)
2 Metempsychosis (16:49)

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