Tuesday, July 03, 2007


DIE LISTE #23

Lard Free – “Gilbert Artman’s Lard Free” (1973)

“L’Art Fri” é o que lê um francês na capa deste disco que tem muito pouco que ver com música fina ou sem gordura e muito mais com música livre ou jazz-rock ou avant-prog ou o que lhe queiram chamar. Pois este álbum vem mesmo de França, apesar de ter sido gravado em Inglaterra. Gilbert Artman, ou “Gilbert Homme de L’Art”, nasceu do lado de cá do canal da mancha, ali na Normandia, mas já depois do desembarque, em Livarot, e haveria de ser o líder dos míticos Urban Sax. Foi baterista numa orquestra de Jazz ali na zona, mas preferiu ir para a capital, onde se tornou decorador de interiores. Porém, para sobreviver ao tédio do papel de parede ou ao spleen de Paris, tocava êxitos anglo-americanos no grupo Hara-Kiri. E depois do Maio de 68, deixou surpreendentemente uma promissora carreira na decoração para se dedicar à música a tempo inteiro, tocando com nomes importantes do jazz num clube em Saint-Michel. A partir de 1970 começa a tocar com aqueles que viriam a formar com ele os Lard Free. Influenciados pela Cena de Canterbury, houve quem lhes chamasse os futuros Soft Machine franceses, mas bem depressa se libertariam dessa expectativa criando algo diferente e singular. Em 1973, gravam num estúdio em Inglaterra este primeiro álbum, concebido e acabado em 36 horas: Gilbert Artman’s Lard Free, porque, de facto, ele é a principal figura do grupo, assim como nos Heldon, Richard Pinhas o seria. Um multi-instrumentista que toca bateria, vibrafone e piano Steinway neste disco, ao lado de Hervé Eyhani, responsável pelo baixo e pelo sintetizador ARP, Philippe Bolliet, com os saxofones, e François Mativet, na guitarra.
O disco abre com uns acordes de baixo e uma batida num ritmo “groovy”, mas é invadido progressivamente por ataques longos de saxofone, por uma guitarra irritada e massivos clusters eléctricos: warinobaril? A segunda faixa, um estranho trocadilho com um filme de Godard, “12 ou 13 Juillet que je sais d’elle”, começa com uma estranha sequência electrónica que recorda prolepticamente Chris Carter ou, com maior grau de certeza, Conrad Schnitzler. Sim, porque Lard Free tem o seu quê de “rock choucroute”. Aliás, nos álbuns segintes aproxima-se cada vez mais dos seus congéneres alemães, mas neste já se faz sentir o rock espacial e atmosférico, ainda que o jazz rock de vanguarda ainda domine. “Honfleur écarlate”, guarda um certo psicadelismo rural do seu título, mas investe um saxofone inequivocamente urbano, galvanizado pelos efeitos de estúdio. O mesmo acontece em “Acide Framboise”, onde as improvisações psicadélicas são estruturadas por uma bateria aventureira mas firme, como em todo o álbum, já que é o instrumento líder de todo o projecto. Um pouco mais onírico e nostálgico, como o nome indica, “Livarot respiration”, antecede um sufocante e proto-industrial “Culturez-vous vous-même”. Ouçamo-lo logo depois da segunda faixa.

Tracklist:

1. Warindbaril (3:52)
2. 12 ou 13 juillet que je sais d’elle (8:54)
3. Honfleur écarlate (4:53)
4. Acide framboise (6:43)
5. Livarot respiration (7:45)
6. Culturez-vous vous-mêmes (4:21)

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