Friday, August 24, 2007

POPOL VUH – Hosianna Mantra (1972)

Dos Popol Vuh poder-se-á dizer que transportaram algumas das coordenadas que um pouco mais tarde viriam a pautar o designado new age. Se Klaus Schulze e Manuel Götching, na segunda metade da década de 70, depuraram o conceito sobretudo a partir de sintetizadores, Hosianna Mantra, em 1972, trouxe a possibilidade totalmente acústica de evocações espirituais e divinas num registo etéreo, onde a estética contemplativa se apresenta de forma deliciosamente bela.
De facto, dos Popol Vuh, mais do que a exótica associação espiritual sugerida pelo nome – trata-se de um dos poucos livros que restam da civilização Maia, que compila um conjunto de lendas de carácter religioso que explicam as origens daquele povo –, retém-se de forma clara o cruzamento permanente das referências orientais da sua música com uma estrutura ocidental de composição, manifestando-se também pela combinação linguística do próprio título do álbum. Em Hosianna Mantra, o terceiro disco deste grupo formado em 1969, as notas de piano deixam adivinhar a formação clássica de Florian Fricke, o fundador do grupo, tal como o sentido melódico e rítmico em permanente desconstrução denuncia o seu envolvimento na cena jazz-rock de Munique em meados da década de 60 (onde acompanhou Manfred Eicher, mais tarde o patrão da ECM).
Hosianna Mantra marca a primeira incursão dos Popol Vuh em registos inteiramente acústicos. Um passo que a massiva utilização das infinitas possibilidades do Moog nos dois primeiros álbuns (Affenstunde e In Der Gärten Pharaos) não deixava antever, mas que introduziu a voz celestial da soprano coreana Djong Yun e a mestria de Conny Veit na guitarra, à época com apenas 17 anos, mais tarde fundador dos Gila. Destaque também para o oboé de Robert Eliscu e para o travo orientalizante conferido pela tambura do etno-musicologista Klaus Weise.
O disco abre com Ah!, a convocar desde logo atmosferas meditativas, com o piano de Fricke a assumir papel de destaque. Kyrie parece cosmicamente configurado: o enquadramento espacial dos acordes profundos da guitarra de Veit acolhe pela primeira vez a voz angelical de Yun, “protegida” por linhas de oboé e pelo drone hipnótico da tambura. O tema-título, Hosianna Mantra, traduz um arranjo mais estruturado que apresenta toda a elegância do disco, confirmando nos temas seguintes um apelo simultaneamente clássico e de vanguarda. O disco transporta-nos para um mantra encantado, celestial.

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