Tuesday, July 03, 2007


DIE LISTE #26

Arbete och Fritid – “Hall Andan” (1979)

A Suécia dos anos 70 foi um caldeirão fervilhante de ideias e criatividade, como já pudemos comprovar com os discos de Algarnas Tradgard, International Harvester e Zammlaz Mammaz Manna que já por estas crónicas passaram. Esta semana é de novo da Suécia que chega “Hall Andan”, um disco de 1979 dos inacreditavelmente ecléticos e, por isso também, inclassificáveis Arbete och Fritid. Com alguns membros que haviam já passado pelos International Harvester e pelos Träd, Gräs och Stenar, e outros experimentados músicos do jazz improvisado, os Arbete och Fritid (Trabalho e Lazer) têm a capacidade camaleónica de, num ápice, passar do rock’n’roll ao folk ácido, mas não se detêm no puro jogo paródico, antes pelo contrário criam muitas vezes estruturas inovadoras que tanto fundem os géneros como os fazem implodir para construir sobre eles inauditas sonoridades. Historicamente, o seu contexto de aparecimento foi o rock psicadélico sueco e o jazz de improvisação, mas as suas composições ousadas estão mais perto da desconstrução vanguardista, informada e bem humorada do RIO (Rock In Opposition) do que das derivas contemplativas do rock progressivo. O que não exclui porém as suas longas e meditativas raggas que devem mais à vocação orientalizante das procuras rítmicas e tímbricas dos minimalistas americanos (La Monte Young ou Terry Riley) do que à mera citação exótica de paraísos perdidos, tão ao gosto da ideologia hippie que os viu nascer.
Ainda que a banda tenha começado já em 1969, “Hall Andan” conserva a energia inaugural e a alegria revolucionária de um início, mas já com a destreza e experiência criadora que dez anos de carreira podem promover. “Harmageddon Boogie” abre animadamente o disco com um ritmo de rock’n’roll onde se esculpem vociferantes imprecações de cariz político, provando que debaixo de uma histérica anarquia musical existe uma mensagem empenhada e interessada. “Kalvdans” é muito provavelmente a razão principal da inclusão deste disco na lista, pois o seu carácter informe é tão belo como a “retractilidade das garras das aves de rapina; ou ainda, como a incerteza dos movimentos musculares nas chagas das partes moles da região cervical posterior...” E, logo a seguir, "Jag Föddes En Dag" explode com a raiva do punk rock, estampa-se abruptamente contra um segmento de free-jazz e funde-se como metal quente num misterioso lamento eléctrico urbano-depressivo. John Zorn não teria feito melhor! “Kopparna Pa Bordet” é o princípio do lado B, com uma balada que soaria bem num festival de milho no Midwest americano se não tivesse a delicadeza consonântica da fonética sueca. Aliás, o curto segmento de folk medieval que lhe segue faz-nos regressar de modo claro à Escandinávia, mas como breve entremez que antecede a longa meditação de “Dorisk Dron”. Porém, o efeito psicotrópico perdura na improvisação final em “Thulcandra”. Mas antes de tomar qualquer analgésico, ouçamos “Kalvdans”.

Tracklist:

Lado A
1. Harmageddon boogie (3:18)
2. Kalvdans (10:41)
3. Jag föddes en dag (8:04)

Lado B
1. Kopparna på bordet (7:22)
2. Vägvisa (1:25)
3. Dorisk dron (6:50)
4. Thulcandra (7:34)

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