Wednesday, July 18, 2007

[Não foi possível encontrar uma reprodução digitalizada da capa do disco. No entanto, pode ser encontrada uma fotografia no blog Mutant Sounds]

DIE LISTE #27

Pekka Airaksinen – “One Point Music” (1973)

Tal como na crónica anterior, o disco desta semana vem da Escandinávia, porém, desta vez, da bem mais obscura e (até ao momento) inaudita Finlândia. A obscuridade finlandesa não se deve apenas ao pouco sol que por lá irradia, mas sobretudo a uma informação encriptada por uma língua inacessível ao latino médio. No entanto, se hoje em dia a música suomi tem já alguma divulgação e até bastantes fãs no ocidente europeu, nos finais de 60 e inícios dos anos 70, a informação era bastante mais esotérica. Um esforço recente em fazer uma arqueologia da música electrónica e de vanguarda feita na Finlândia permitiu descobrir uma “cena” bastante activa e prolífica e, em alguns casos, como no do disco desta semana, uma criação original e visionária. Pekka Airaksinen, ao lado de Erkki Kurenniemi, foi um dos nomes pioneiros da música experimental finlandesa. Inspirado por nomes como Kagel, Stockhausen, Cage ou Riley, desde os anos 60 que Pekka Airaksinen desenvolvia as suas actividades musicais, sobretudo com o literalmente seminal colectivo The Sperm, cujo único disco “Shh!” também está na lista, e que foi fundado por ele e pelo filósofo Mattijuhani Koponen, este também conhecido pela escandalosa performance num dos concertos da banda em que simulava sexo com um piano de cauda, o que lhe valeu oito meses de prisão. Mas se o desempenho em palco primava pela irreverência e pelo escândalo – o equivalente escandinavo dos Coum Transmissions – a música anunciava com muita antecedência o experimentalismo escatológico e industrial dos Throbbing Gristle. E Pekka Airaksinen foi o principal responsável pela criação musical dos The Sperm, de modo que anos mais tarde edita a solo um conjunto de peças compostas entre 1968 e 1971, no disco “One Point Music”.
O minimalismo enunciado no título do álbum reflecte-se nas faixas do LP, mas não nos recursos criativos de Airaksinen, que recorre a fontes electrónicas e acústicas variadas para surtir efeitos, por vezes, timidamente meditativos, e, na maior parte das vezes, psicadélicos. Não obstante as referências mais eruditas da música concreta francesa e dos estúdios de electrónica alemã, Pieni sienikonsertto (Concerto de um pequeno cogumelo) ou, alternativamente, A Little Soup for Piano and Orchestra op. 46.8 revela uma estrutura e uma energia mais próximas da improvisação afro-americana do jazz ou do rock. No entanto, não menos bizarra, esta sopa para piano – preparado, está claro – e orquestra – de inclassificáveis ruídos e marteladas – foi gravada em 1970 num Departamento de Musicologia e é assombrada por fantasmáticas “falhas” de gravação invertida. Mo-On-ing, do ano seguinte, é uma cacofónica peça para percussão doméstica e histriónico orgão eléctrico que faz adivinhar a inspiração de um dos momentos da terceira faixa do próprio Chance Meeting on a Dissecting Table of a Sewing Machine and an Umbrella dos NWW. Sadetta (Some Rain) de 1968, aparentemente, terá mesmo sido composto a partir das gotas de chuva que Pekka Airaksinen previamente gravou. O lado B do disco é preenchido por três faixas de 1968 – Skara, S Rock e Fos 2 - que completam a música para a peça Sisyfos, onde as influências de Stockhausen, Iannis Xenakis ou Gottfried Koenig parecem estar bem presentes como referem as notas do disco. Ouçamos Pieni sienikonsertto e logo depois Fos 2.

Lado A
1 Pieni sienikonsertto - A Little Soup for Piano and Orchestra op. 46.8 (1970) 8:37
2 mo-On-ing (1971) 5:26
3 Sadetta - Some rain (1968) 6:16

Lado B - Music for the Play Sisyfos (1968):
1 Skata (6:12)
2 S rock (6:26)
3 Fos 2 (5:50)

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