Thursday, November 15, 2007


DIE LISTE #37

Annexus Quam – “Osmose” (1970)

Annexus Quam: esta estranha locução em latim que carrega o sentido de uma reunião, junção ou conexão foi escolhida, em 1970, para o projecto inicialmente denominado Ambition in Music (segundo “A crack in the cosmic egg”), quando este decidiu fundir vários géneros (desde o rock psicadélico ao jazz-rock, passando por alguns elementos étnicos) e estilos musicais (os de cada um dos seus sete membros), num mesmo processo e acontecimento de criação musical. Oriundos de Kamp-Lintfort, nos arredores de Dusseldorf, tocavam desde 1967 uma espécie de rock hippie, embora já no ano seguinte se houvessem juntado a uma banda local evangélica de metais que renovou o espectro tímbrico do grupo, atirando-o no sentido do jazz e da improvisação. Mas foi um espírito de fusão que inspirou “Osmose”, o primeiro álbum gravado dos Annexus Quam nos finais do verão de 1970, um dos primeiros discos do krautrock a ser editado pela famosa Ohr Records. Para além da ousadia experimental e vanguardista empenhada no esforço musical deste disco, destaca-se a original capa do álbum que podia ser dobrada numa pirâmide que desmultiplicava as suas imagens, talvez para exprimir a enigmática fusão osmótica que o tornou possível e anunciar o malogrado silêncio de uma lista ao qual foi remetido durante muitos anos, até à sua reedição em CD de 1999. O teor jazzístico de “Osmose” haveria de ser reelaborado durante várias prestações ao vivo em festivais de jazz, para fazer o grupo mergulhar assumidamente nos caminhos do free-jazz no segundo e último álbum “Beziehungen” de 1972.
“Osmose” é decomposto em quatro partes de improvisação, três no lado A e uma longa “pièce de résistance” que ocupa todo o lado B. Quase todos os sete elementos do grupo - excepto Ove Volquartz, que apenas toca saxofone - são multi-instrumentistas, dando o seu contributo tanto nas percussões como nas vozes, distribuindo-se individualmente pelo baixo, clarinete e órgão, bateria, flauta, guitarra eléctrica, viola e trombone. Todos participando numa, por vezes etérea, noutras lisérgica, divagação pelo rock e o jazz de fusão, a fazer lembrar aqui e ali algumas inovações de Canterbury, ainda que a referência psicadélica dos primeiros anos de Pink Floyd pareça estar ainda mais presente em todo o álbum e sobretudo nas manipulações ecóicas do estúdio. O início do álbum é lento e paquidérmico como a reverberação dos passos de um elefante no interior de uma bolha de latão. O segundo e mais curto segmento respira o rock pop mas desliza qual areia trepidante numa garrafa de pirolitos. A última faixa do lado A recomeça lenta, numa melancolia que funde o blues com o jazz até que a meio se perde, definitivamente, na deriva psicadélica que havia sido sugerida timidamente nas faixas anteriores. No entanto, se as transições entre faixas são abruptas e permitem duvidar da unidade do álbum, as passagens pelos vários momentos dentro de cada faixa – pois é aí que a osmose acontece - são feitas de um modo orgânico e fluido, acabando por devolver a consistência necessária à sustentação das quatro peças como um todo. O lado B é preenchido pela peça mais longa e mais densa e é dela que vamos ouvir um excerto. Aqui se sobrepõem como camadas líquidas o jazz, a trip e até, surpreendentemente, um aroma hispânico despoletado pelas castanholas e pela improvisação na viola. Desfrutemos.

Tracklist:

Lado A
1 Osmose I (4:15)
2 Osmose II (3:11)

Lado B
3 Osmose III (10:36)
4 Osmose IV (18:20)

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