Sunday, November 25, 2007

DIE LISTE #39

Nine Days Wonder – “Nine Days Wonder” (1971)

No final do século XVI, William Kemp, um célebre actor cómico da época isabelina, fez o percurso de Londres a Norwich todo a dançar, vencendo assim um desafio que lhe havia sido lançado. Demorou nove dias a realizar tal “maravilha”, mas o que ficou do feito foi uma expressão inglesa, “nine days’ wonder”, que simboliza, sobretudo, o enfado que tal feito poderá ter provocado ao fim daqueles nove dias. Nine Days Wonder é, pois, algo que encanta por pouco tempo, mas é também o nome de mais um “cadáver exquisito” incluído nessa lista de que temos vindo a fazer a imetódica autópsia.
Incipientemente formados desde 1966, só em Janeiro de 1971 Walter Seyffer reuniu a sua banda internacional para gravar o seu primeiro álbum. O irlandês John Earler assegurou os saxofones, a flauta e um pouco de guitarra para acompanhar a sua voz; o austríaco Mutschlechner criou as linhas de baixo; Rolf Henning, o outro alemão da banda para além do próprio Seyffer adicionou mais uma guitarra e os parcos sons de piano; enquanto o britânico Martin Roscoe tocava bateria, por vezes duplicada pelas percussões do líder da banda. Mas o rol de artistas não ficaria completo se não se falasse da viola de gamba do convidado Martin Lill e do indispensável trabalho de estúdio de, nada mais nada menos que, o famoso produtor Dieter Dierks. Parece ter sido o suficiente para incluir este projecto na enciclopédia de krautrock dos irmãos Freeman. Em abono da verdade, deve dizer-se que a verve experimental e a bizarria deste disco homónimo dos Nine Days Wonder, empacotado em espuma de poliuretano verde, respirava o “zeitgeist” alemão do início da década de 70. Mas não pode obviar-se à evidência das influências anglo-saxónicas: as experiências de fusão de Frank Zappa, o blues psicadélico de Captain Beefheart – note-se por exemplo o sotaque americanizado do vocalista ou a transformação eléctrica da voz-, mas também, o rock progressivo dos King Crimson ou até alguma inspiração vinda de Canterbury. A singularidade do projecto provém no entanto do modo como concentram todas estas influências numa mesma faixa, a qual pode variar imprevisivelmente a qualquer instante, camuflada apenas pela perícia técnica dos seus membros virtuosos.
Duas faixas longas permitem começar e acabar o álbum, separadas por outras duas, mais curtas, no fim do lado A e no princípio do lado B. Mas aquelas, as mais longas, acabam por ser uma colagem de diferentes segmentos, com instrumentações e estilos muito diversos, desde o rock’n’roll ao puro experimentalismo electro-acústico. A primeira faixa, por exemplo, que escutamos já em fundo, é dominada por uma clara inspiração americana, que começa com Don van Vliet e acaba com Zappa, mas que não exclui a folclórica inclusão da flauta e da viola de gamba em “Puppet Dance”, nem alguns solos de bateria ou a improvisão jazzística do saxofone em “Square”. Destaque-se, ainda, a lunar e histérica incursão surrealista de “Morning Spirit”. Continuemos, então, a escutar Fermillon e as suas derivações.

Tracklist:

Lado A
1. Fermillion (15:48)
2. Moss Had Come (3:27)

Lado B
3. Apple Tree (6:45)
4. Drag Dilemma (12:47)

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