Friday, March 21, 2008

DIE LISTE #46

Alcatraz – “Vampire State Building” (1971)

Alcatraz. Apesar do nome, a música dos Alcatraz, o grupo seleccionado para a crónica de hoje, não é nem claustrofóbica, nem particularmente reclusiva e, no entanto, a carreira da banda não cresceu muito para além do disco que aqui se traz, devido a uma inoportuna mobilização forçada do seu baterista, o competente Jan Rieck, para as Forças Armadas Federais da Alemanha, pouco tempo depois de aquele ter sido lançado pela Philips, em 1972. Estamos a falar de “Vampire State Building”, o primeiro disco do quinteto alemão Alcatraz. Um trocadilho de gosto duvidoso, que se torna um caso sério do kitsch germânico dos anos 70 quando, na capa do disco, se transfigura num par de arranha-céus invertidos – na realidade, uma imagem duplicada do famoso Empire State Building – no lugar dos caninos vampirescos de uma boca de mulher, de onde escorrem gotas de sangue, sobre um fundo nocturno numa gradação de azul escuro. Como se não bastasse, “Oh baby, it ain’t no use running away from me” é a frase que sai de entre aqueles dentes hiper-realistas.
A música, porém, não tem nada de muito assustador: Vanilla Fudge, Black Sabbath e Uriah Heep foram algumas das primeiras influências do grupo de Hamburgo que, no início da sua carreira, tocavam ao vivo apenas versões desses grupos, até ao momento em que decidiram criar os seus próprios temas, numa fase em que o ascendente da fusão jazz-rock de bandas como Soft Machine ou The Tony Williams Lifetime tomou a dianteira nas escutas musicais de Alcatraz, que se reflectiram portanto num som de fusão entre uma tendência mais improvisacional e jazzística e uma origem hard rock que nunca perderam. Segundo os próprios, não tinham qualquer pejo em misturar fragmentos de Cannonball Adderley com elementos de Deep Purple! Para perceber a especificidade do som de Alcatraz teremos apenas de acrescentar a tudo isto a tonalidade kraut que resultou provavelmente do contexto local e talvez mais ainda do facto de este disco ter sido produzido por Kurt Graupner no Tonstudio Wümme, nada mais nada menos que o mesmo onde os Faust gravaram os seus lendários discos de inícios de 70. Reza ainda a lenda que, no segundo dia de gravação, o estúdio foi cercado por uma grande formação policial que procurava nas quintas circundantes um esconderijo terrorista, sem que isso tenha impedido que a gravação se realizasse ainda nesse dia, o que dá ao álbum uma aura heróica.
A primeira faixa do disco “Simple Headphone Mind” é uma longa faixa que resume bem o espírito de fusão deste projecto. A sonoridade do jazz é óbvia e confirmada pelos solos do saxofone de Klaus Nagurski, a leveza quase pastoril da flauta, do mesmo Klaus, avisa-nos de que estamos no rescaldo do sonho hippy e as irrupções distorcidas da guitarra eléctrica de Holst revelam as origens Hard-rock do grupo. A segunda faixa, “Your Chance of a Lifetime” transporta elementos progressivos e psicadélicos com um travo experimentalista a lembrar os primeiros anos de Soft Machine. “Where the wild things are” é a última faixa do lado A, com uma sonoridade blues mais pesada, começa a mostrar o excelente trabalho do percussionista, que se revela completamente na longa faixa do lado B que dá nome ao álbum, “Vampire State Building”, onde não falta o grande solo de bateria da praxe. A última faixa do álbum, “Piss Off”, é como o nome indica, a mais rebelde, a menos convencional e mais caótica. É essa que vamos ouvir depois de “Simple Headphone Mind”, que temos estado a escutar e que deu também o nome ao EP de 1997 que resultou da colaboração entre NWW e Stereolab. Não se tratando de uma versão dessa faixa, como muitas vezes se diz, não deixa de ser uma referência directa à lista de Steven Stapleton.

Tracklist:

1. Simple Headphone Mind (10:00)
2. Your Chance Of A Lifetime (5:06)
3. Where The Wild Things Are (3:03)

4. Vampire State Building (13:10)
5. Piss Off (3:18)
6. Change Will Come (6:08)

Labels:

0 Comments:

Post a Comment

<< Home