
DIE LISTE #50
Orchid Spangiafora – “Flee past’s Ape Elf” (1979)
Orchid Spangiafora é o estranho nome que terá intrigado Steven Stapleton e que, depois de escutada a sua criação sonora, terá certamente gerado um reconhecimento instantâneo de afinidades electivas, ao ponto de ser indiscutível a necessidade de o incluir na lista (na adicional, porém, já que a edição do seu primeiro álbum, pela Twin/Tone Records, aconteceu apenas em 1979). Pois se o nome, só por si, se encaixava perfeitamente na poesia concreta do universo surrealista de Nurse With Wound, o trabalho sonoro daquele projecto americano ressoou nos primeiros discos de Stapleton, sobretudo e escandalosamente, em "Ladies Home Tickler". Isso nada tem, no entanto, de espantoso diante da fertilidade angiospérmica de Orchid Spangiafora, que fecundou anonimamente outros projectos insuspeitos como, por exemplo, Negativland; e não seria impossível que alguns "samples"tivessem mesmo chegado a ser usados pelas criações mais recentes de Vicki Bennett nos discos de People Like Us, com os quais partilha o mesmo tipo de humor fonético e sintáctico.
"Flee Past's Ape Elf" é o título do álbum desta semana, mas seria inútil tentar encontrar o seu significado, pois, tal como, as palavras e vozes que constituíram a matéria sonora das composições, serve apenas uma oratória magnética que vive dos efeitos acidentais e rítmicos dos sons e letras que o engendram: o título é tão sómente um palíndromo. Isto não significa que se trate de qualquer tipo de ineptidão ou que tenha um carácter meramente involuntário, bem pelo contrário, os erros mecânicos e as falhas acústicas foram incluídos sistemática e dinamicamente num processo de composição que teve os seus antepassados nos estúdios de música concreta do GRM ou no "Poème Electronique" de Edgar Varèse, cuja influência o próprio Rob Carey reivindica. No entanto, as suas referências mais imediatas, dado que as gravações foram feitas entre 1972 e 1977, terão sido algumas experiências de Frank Zappa, a famosa faixa "Revolution #9" dos Beatles e a teoria dos "cut-ups" de William S. Burroughs. Rob Carey, o autor de quase todas as composições, frequentava desde 1972 um cruso de música electrónica no Hampshire College e as primeiras experiências terão acontecido no estúdio da escola. Ao contrário da maior parte dos seus colegas, focados nas virtualidades tecnológicas dos sintetizadores, concentrava os seus esforços de composição nas mesas de mistura e edição. De modo que, apenas armado com fita magnética, tesoura e fita cola, e, claro, um leitor-gravador de cassetes e microfone, conseguiu produzir grande parte do álbum a partir da sua residência, num espírito DIY (Do-it-Yourself), ainda que tivesse sido assistido, aqui e ali, por John Kilgore, assistente do professor de música, ou Chris Osgood, o seu colega de quarto que haveria de ser membro dos Suicide Commandos.
O disco em si é constituído por onze faixas, seis no lado A e cinco no lado B. Foram todas compostas através da manipulação de fita magnética, ora previamente gravada com captações de voz feitas por Carey e seus colaboradores, ora com gravações de programas de rádio e televisão, e a sua posterior colagem. "Coarse Fish", por exemplo, resultou da dissecação das vozes num documentário televisivo sobre história natural. "Mondo Stupid" foi o produto de meses de trabalho à volta de vozes gravadas pelos próprios, a sua inversão e tentativa de reprodução vocal do efeito obtido, para, finalmente, com uma nova reversão da fita, produzir o resultado que vamos escutar já de seguida. A última faixa, "The Persistance of Fred MacMurray", foi um acidente de estúdio, ocorrido quando Rob Carey reproduzia um longo "loop", em "feedback", de um "drone" electrónico, em dois "decks", simultaneamente, em que a fita se envolveu num dos suportes de microfone, quase fazendo com que caísse, mas pelo menos esticando a fita de tal modo que produziu o estranho efeito com que Carey resolveu terminar o disco. Depois de "Sheer Madness" nos ter acompanhado ao longo desta crónica, ouçamos, "Coarse Fish", "Mondo Stupid" e "The Persistance of F.M.".
"Flee Past's Ape Elf" é o título do álbum desta semana, mas seria inútil tentar encontrar o seu significado, pois, tal como, as palavras e vozes que constituíram a matéria sonora das composições, serve apenas uma oratória magnética que vive dos efeitos acidentais e rítmicos dos sons e letras que o engendram: o título é tão sómente um palíndromo. Isto não significa que se trate de qualquer tipo de ineptidão ou que tenha um carácter meramente involuntário, bem pelo contrário, os erros mecânicos e as falhas acústicas foram incluídos sistemática e dinamicamente num processo de composição que teve os seus antepassados nos estúdios de música concreta do GRM ou no "Poème Electronique" de Edgar Varèse, cuja influência o próprio Rob Carey reivindica. No entanto, as suas referências mais imediatas, dado que as gravações foram feitas entre 1972 e 1977, terão sido algumas experiências de Frank Zappa, a famosa faixa "Revolution #9" dos Beatles e a teoria dos "cut-ups" de William S. Burroughs. Rob Carey, o autor de quase todas as composições, frequentava desde 1972 um cruso de música electrónica no Hampshire College e as primeiras experiências terão acontecido no estúdio da escola. Ao contrário da maior parte dos seus colegas, focados nas virtualidades tecnológicas dos sintetizadores, concentrava os seus esforços de composição nas mesas de mistura e edição. De modo que, apenas armado com fita magnética, tesoura e fita cola, e, claro, um leitor-gravador de cassetes e microfone, conseguiu produzir grande parte do álbum a partir da sua residência, num espírito DIY (Do-it-Yourself), ainda que tivesse sido assistido, aqui e ali, por John Kilgore, assistente do professor de música, ou Chris Osgood, o seu colega de quarto que haveria de ser membro dos Suicide Commandos.
O disco em si é constituído por onze faixas, seis no lado A e cinco no lado B. Foram todas compostas através da manipulação de fita magnética, ora previamente gravada com captações de voz feitas por Carey e seus colaboradores, ora com gravações de programas de rádio e televisão, e a sua posterior colagem. "Coarse Fish", por exemplo, resultou da dissecação das vozes num documentário televisivo sobre história natural. "Mondo Stupid" foi o produto de meses de trabalho à volta de vozes gravadas pelos próprios, a sua inversão e tentativa de reprodução vocal do efeito obtido, para, finalmente, com uma nova reversão da fita, produzir o resultado que vamos escutar já de seguida. A última faixa, "The Persistance of Fred MacMurray", foi um acidente de estúdio, ocorrido quando Rob Carey reproduzia um longo "loop", em "feedback", de um "drone" electrónico, em dois "decks", simultaneamente, em que a fita se envolveu num dos suportes de microfone, quase fazendo com que caísse, mas pelo menos esticando a fita de tal modo que produziu o estranho efeito com que Carey resolveu terminar o disco. Depois de "Sheer Madness" nos ter acompanhado ao longo desta crónica, ouçamos, "Coarse Fish", "Mondo Stupid" e "The Persistance of F.M.".
Tracklist:
Lado A
1 Dime Operation (8:34)
2 Short Piece (0:22)
3 Sput (2:16)
4 Flee Past's Ape Elf (2:12)
5 Mondo Stupid (4:14)
6 Hold Everything (2:35)
Lado B
1 Sheer Madness (7:50)
2 Some Crust (4:55)
3 Coarse Fish (4:45)
4 Trapped Heir Suite Part 2 (1:28)
5 Persistance Of F.M. (2:05)
Labels: DIE NWW LISTE
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