Thursday, January 11, 2007


DIE LISTE #8

Fille qui mousse – “Se taire pour une femme trop belle” (1972)

“Trixie Stapelton 291”. Em meados da década de 90, este foi um dos nomes com que foi editado, em cd, o álbum dos Fille Qui Mousse. O outro era “Se taire pour une femme trop belle”. Edições mal cuidadas com fraca ou nenhuma informação sobre os músicos e o nome das faixas. A razão para o surgimento destas “bootlegs” tem a ver com o grau mitológico a que chegou um dos projectos mais obscuros da Lista. Tão obscuro que chegou a duvidar-se da sua existência. Dúvidas que aumentaram quando surgiu tantos anos mais tarde um disco francês com o título enigmático de “Trixie Stapelton 291”. Tratava-se obviamente de uma referência ao culto gerado pela Lista de Nurse With Wound (o grupo de Steven Stapleton), que contém precisamente 291 nomes de bandas (isto, se considerarmos que Amon Düll, Amon Düll II, Limbus 3 e Limbus 4 correspondem a apenas duas bandas, em vez de quatro). Se recordarmos que o próprio Stapleton disse, a dada altura, que alguns nomes de bandas eram inventados, esta parecia precisamente uma das partidas da Lista.

Contra todas as aparências, porém, no verão de 1971 foi efectivamente gravado um álbum com o nome “Se taire pour une femme trop belle” que deveria ser lançado pela lendária editora francesa Futura que editara já, há data, outros nomes que figuram também na Lista: Jean Guérin, Jacques Thollot, Mahogany-Brain, Semool, Horde Catalytique pour la Fin, Bernard Vitet e Red Noise. Fille Qui Mousse era o projecto experimental do músico-jornalista Henri-Jean Enu, editor parisiense de “Le Parapluie”, publicação alternativa de inspiração “soixante-huitarde”, juntamente com os músicos François Guildon, Benjamin Legrand, Jean-Pierre Lentin, Dominique Lentin, Denis Gheerbrandt, Sylvie Péristéris, Léo Sab e a voz de Barbara Lowengreen, que dá nome à primeira faixa. À falta de melhor, pode dizer-se que é um grupo de rock experimental, mas só as primeira e última faixas de improvisação psicadélica se aproximam do que conhecemos por rock. Quanto ao resto, trata-se de experiências de estúdio, fragmentos de poesia sonora surrealista, colagens de ruídos e improvisações com instrumentos preparados e ainda um momento inspirado pelo folclore da bretanha com uma “vielle à roue”, correspondente à nossa “sanfona”. Os títulos das faixas são tão desconcertantes como os sons que emitem ou a letra em inglês do único “hit” pop de um minuto: “Magic-bag”. Em dezembro de 1971 o álbum era misturado, mas um ano depois apenas 10 a 12 cópias existiam, resultantes de testes em vinil prensado. A editora Futura atravessava problemas financeiros que impediram a edição oficial do disco. Contingência que somada ao facto de constarem de uma lista de música experimental rara e cobiçada criou um culto crescente entre os fanáticos do bizarro e do inusitado. Só em 2002, aparecia a edição fiável pela Fractal-records para acalmar as ânsias dos coleccionadores, objectivo impossível de cumprir, visto que a aura de legitimidade e autenticidade continua a acompanhar aquelas 10/12 cópias em vinil prensado.

Seleccionámos para escuta: “Princesse nuage”, uma experiência rítmica de embalar com percussão e cordas; “Amour-gel”, momento poético surrealista numa paisagem suburbana aparentemente nocturna, com cães a ladrar ao longe; a 9ª faixa, sem título, que consiste numa improvisação em guitarra eléctrica; e finalmente, a primeira faixa, “Barbara Lowengreen speed way”, rock psicadélico relativamente mais convencional.

Escutemos então aqueles que pelo seu experimentalismo e radicalismo já foram denominados como os “Faust franceses”!



Tracklist:

1. Barbara Lowengreen Speed-Way (5:46)
2. Mirroir Nagait Dans Le Lac Du Bois De Boulogne (0:57)
3. Princesse Nuage (2:00)
4. Amour-Gel (2:28)
5. Derrière Le Paravent (5:44)
6. Bubble Gun A Jacqueline Prothèse (1:26)
7. Tibhora-Parissall (1:06)
8. Magic-Bag (1:04)
9. [sem título] (3:06)
10. Gibet-Jasmin Ordination (3:07)
11. Annal-Mandreke-Cool Non Imperial News (8:30)


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