Monday, December 25, 2006


Planetarische Umlaufbahn #4 ASH RA TEMPEL

Quando Manuel Göttching e Hartmut Henke se juntavam em Berlim para tocarem alguns êxitos pop-rock da década de 60, certamente não mais do que energia adolescencial preenchia os seus horizontes. A verdade é que anos mais tarde, já após a eclosão embrionária de Steeple Chase Blues Band e em plena vertigem da produção musical da Alemanha na primeira metade da década de 70, Göttching e Henke lideravam os Ash Ra Tempel, ícones da experimentação psicadélica do krautrock.
No verão de 1970, enquanto aprendizes de composição experimental com o compositor avant-garde Thomas Kessler, o duo atrás referido conhece Klaus Schulze, então estudante e baterista com forte vocação experimental - ou não tivesse acabado de passar pela órbita dos Tangerine Dream. Formam, então como trio, o primeiro alinhamento oficial dos Ash Ra Tempel, fascinando com os seus intermináveis e inovadores concertos, alguns documentados em "The private tapes".
O primeiro disco surge em Março do ano seguinte, gravado em Hamburgo com produção do influente Konrad "Conny" Plank e editado pela Ohr, uma das mais importantes editoras da época na Alemanha, que tinha em Rolf-Ulrich Kaiser o seu mentor. O disco, homónimo, teve a original capa de abrir ao meio, em cartão, evocando um portão de um templo egípcio. Curioso o facto de o disco, com apenas dois temas (um de cada lado do vinil), apresentar um lado mais poderoso ("Amboss") e outro mais meditativo e flutuante ("Traummaschine") - conceito que, de resto, esteve presente nos quatro primeiros álbuns do grupo; a excepção deu-se com "Starring Rosi".
Um ano depois é editado "Schwingungen" (vibrações). Trata-se de um registo mais estruturado e que contou com alterações no alinhamento do grupo, que, aliás, se sucederam na história do grupo: Schulze saíu (um abandono temporário, para gravar o seu primeiro trabalho a solo, "Irrlicht"), entrando Wolfgang Muller para a bateria - um "regresso", pois pertencera aos Steeple Chase Blues Band; John L., entretanto despedido dos Agitation Free devido aos seus devaneios "freak" a la LSD, deu a voz em "Light and darkness". Após a gravação do disco, Muller abandonou o grupo, que se expandiu com Micky Duwe, Dietmar Burmeister e Steve Schroder (ex-Tangerine Dream). É durante este período que o grupo grava o célebre "Seven Up" com a colaboração do guru da contraculturaTimothy Leary, entretanto na Suíça, "fugido" dos EUA. Pela sua singularidade, o Kosmos! decerto integrará este trabalho numa destacada órbita.
No final do profícuo e atribulado ano de 1972 chega "Join Inn". Gravado na ressaca de "Seven Up" e na órbita das sessões dos Cosmic Jokers e de Walter Wegmüller, conta com o regresso pontual de Klaus Schulze e com a colaboração de Rosi Muller, então namorada de Gottching e que em "Jenseits" recita delicadamente as alucinadas experiências com o Dr. Leary. Rosi intitula o álbum seguinte, "Staring Rosi", que aproxima os Ash Ra Tempel de um trabalho mais harmonioso e convencional e que contou com nova reestruturação do alinhamento do grupo. Este trabalho marcou um ponto de viragem, já que, após a sua edição, o grupo ficou numericamente reduzido ao virtuosismo multi-instrumental de Manuel Göttchhing. A partir daqui os álbuns são a solo, "Inventions for Electric Guitar" (guitarra e manipulações de loops de cassetes a diferentes velocidades - que, no universo kraut, havia já sido experimentado pelos Neu! em Nue!2 ), "New Age of Earth" (sintetizadores, ou o legado de Schulze) e a banda sonora do filme de Philippe Carrel "Le Berceau de Cristal". As portas do "new age" estavam abertas, tal como dos Ashra, denominação posterior da associação de Göttching a Lutz Ulbrich e Harald Grosskopf.
Pode dizer-se que os Ash Ra Tempel transportaram muita da vitalidade do Krautrock, pela exuberância da sua abordagem musical, pela inovação, pela promiscuidade, pela imprevisibilidade, pelo risco.

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