Wednesday, December 13, 2006


DIE LISTE #5

Comus – “First Utterance” (1971)

Comus era uma figura mitológica para gregos e romanos, filho de Diónisos (Baco) e Circe, um sátiro que simbolizava o espírito de rebeldia, das festas e os pequenos prazeres ociosos e eróticos, as tentações pastorais num masque de John Milton de 1634 com o mesmo nome, que foi provavelmente a inspiração poética das composições de Roger Wootton nesse primeiro disco, “First Utterance”, de 1971, selecção da crónica desta semana. As guitarras acústicas, a doce voz de Bobbie Watson, as pandeiretas, as flautas e os oboés criam um ambiente pastoril e bucólico, violentamente desflorado pelos gritos torturados de Roger Wootton e desencantado pelas letras melancólicas deste arauto do que um dia viria a chamar-se “dark folk”. “Diana”, também uma alusão à deusa romana da caça, da lua e da castidade, foi o single que serviu para abrir este álbum e que daria mais tarde o mote aos Current 93 para o seu “Horsey”. Os britânicos Comus tiveram uma breve carreira nos inícios da década de 70, de onde saíram dois álbuns, “First Utterance”, que acabámos de referir, e “To Keep from Crying” de 1974, que é uma decepção em relação ao genial início editorial da banda. Apesar do pouco sucesso que tiveram na década de setenta, talvez por serem demasiado esquizofrénicos para satisfazerem o público tradicional do folk (Roger Wootton esteve de facto internado várias vezes em sanatórios), ou com melodias e arranjos muito subtis e sofisticados para agradar ao público do hard rock, conseguiram gerar uma espécie de culto tardio que muito se deve às homenagens do grupo de metal progressivo Opeth e à versão de “Diana” feita pelos Current 93, já nos anos 90, para não falar do próprio mérito desta lista dos Nurse With Wound que contribuiu para ressuscitar o interesse por este produto heterodoxo do acid folk britânico.
No programa, escutámos “Diana” e “Song to Comus”. Ambas inspiradas pelo universo pagão da peça de John Milton, mas também pelo seu tema, a castidade feminina tentada no bosque selvagem (“Wilde wood”) pelo sátiro encantador, Comus. Musicalmente, trata-se de composições e arranjos elaborados com mestria e subtileza e de uma intepretação que oscila entre a candura e a perversão.


Track list:
1. Diana (4:40)
2. The herald (12:21)
3. Drip drip (11:09)
4. Song to Comus (7:36)
5. The bite (5:32)
6. Bitten (2:18)
7. The prisoner (6:25)

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