Monday, December 18, 2006

Planetarische Umlaufbahn #3 FAUST V

As histórias que aqui trazemos não são só feitas de personagens pouco comuns, de músicos desconhecidos, ou de comunidades obscuras, mas também de registos discográficos de grupos notáveis que cairam no mais completo esquecimento. Já aqui tivemos a oportunidade de rever os dois primeiros discos de Kraftwerk ("I" & "II"), que Ralf Hutter e Florian Schneider obstinadamente se recusam a incluir na discografia oficial dos quatro cavaleiros do apocalipse robótico. Para além destes, poderíamos referenciar "Tone Float", um disco que gravaram quando ainda se chamavam Organisation, e que ainda menos pessoas associam aos alemães.
A órbita planetária que aqui descrevemos conduz-nos ao album perdido de um dos mais míticos grupos de sempre, estatuto que lhes foi atribuído nos sábios ditames de Julian Cope. Os Faust são a criação de Uwe Nettlebeck, produtor e jornalista musical, que a pedido da Polydor, juntou um conjunto de músicos desconhecidos com o objectivo de criar uma entidade que rivalizasse com os Can ou os Kraftwerk nas vendas de discos. 1971 é o ano zero para a formação composta por Hans Joachim Irmler, Jean Hervé Peron, Werner "Zappi" Diermaier, Rudolf Sosna, Gunther Wusthoff, e Armulf Meifert, que no isolamento do seu estúdio em Wümme criam dois discos, "Faust" (1971) e "Faust So Far" (1972), sobre os quais não nos alongaremos por razões de brevidade.
A história e a literatura são exemplares em descrever situações nas quais as criações se voltam contra os seus criadores. Na verdade, os Faust nunca se encaixaram na categoria que lhes havia sido predestinada, optando por uma via experimentalista totalmente incompatível com os interesses financeiros que assistiram à sua formação. O grupo acaba por deixar a Polydor que havia financiado a construção do estúdio em Wümme e, tal como o doutor da obra de Goethe, vende a sua alma a Richard Branson, proprietário da Virgin Records. O ano de 1973 é marcado pelo lançamento de "The Faust Tapes", o disco que acabou por lhes abrir as portas ao público das ilhas britânicas. Os Faust atravessavam o Canal da Mancha, efectuando um caminho já trilhado por outros grupos alemães da época. Esta ampla divulgação deveu-se a uma estratégia de marketing verdadeiramente inovadora, que consistia muito simplesmente em vender o album ao preço da chuva, mais precisamente a o.5£. As vendas ascenderam aos 50.000 exemplares, o que, apesar do preço, não deixa de ser um feito considerável, se tivermos em conta a bizarria e o experimentalismo patentes nos 43 esquizofrénicos minutos de cortes e colagens sonoras que compõem o disco. Seguiu-se o falhanço comercial de "Faust IV", um registo bem mais convencional onde predominam faixas de curta duração (excluindo o tema de abertura, "Krautrock", que contabiliza 12 minutos) e uma maior utilização de vocalizações.
Em 1974, cansados das constantes digressões, os Faust tiram um ano de sabática em Munique para gravarem o seu quinto album nos estúdios Arabelle de Giorgio Moroder, mas Branson corta relações com o grupo e a confusão instala-se. Jean Herve-Peron apresenta a sua versão da história:

I have no idea how the others managed to get to Munich -- we were all very broke -- but we got to the Arabella and everything seemed fine: Ruud (Bosma) and Joachim had convinced the Arabella management that we were legitimate, and soon we were sitting in the Arabella dining room, happy to meet again after all this time. Rudolf was there, Kurt was there, our dogs were there (they ate the whole time, only the best... and put it on the room bill please, dankeschon); everybody was there.

But, you can imagine, this could not go on forever. After a while (over a week) Arabella got nervous, and then more nervous by the day - until even the sweetest smile from Ruud and the smoothest talk from Joachim could not help us. Who is to pay this huge bill? Panic. Faxes to Virgin -- because we were, in a way, still under contract. They should be pleased that we offer them a master tape of our genial music. But no, Richard didn't even want to listen to our genial music. More panic. Kurt had already discretely left. So, let's rescue the equipment and the tapes at least. We sneaked the equipment and tapes out into the BRS and Ruud and Günther hopped in and... go... run for freedom... speeding gangster-wise through the Arabella grounds, knocking down the closing gates of the parking lot and -- yes, hurrah, they were through!

Like captains in a sinking ship, Joachim, Rudolf and I (where the hell is Zappi?) stayed back to do battle. We were arrested, humiliated (how could anyone not realize the importance of these recordings? Pah!) and no, we none of us had one single pfennig, neither in our pockets nor in the bank, so hang us, torture us, sell our bones to our fans, do what you want with us, but -- please, we're hungry and can't we just talk about this over a nice bottle?
The non-funny, non-heroic end of this story was that Joachim's and Rudolf's mamas bailed us our and paid the bills to save their cherished progeniture. Thank you Mrs. Irmler, thank you Mrs. Sosna.

A Virgin acabou por fazer circular uma cassete promocional das sessões, que apesar da má qualidade do som, apresenta os caracteres distintivos dos Faust. Estes entraram em período de hibernação, ressurgindo nos anos 90 com novos albums de estúdio e múltiplas colaborações com outros músicos. Ao que parece, nunca chegaram a vender a alma...

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