Wednesday, January 17, 2007


DIE LISTE #9


L’Infonie – “Vol. 333” (1972)

Esta é a 9ª crónica sobre a Lista de Nurse With Wound, uma bela oportunidade de encontrar um disco e uma agulha numa távola redonda de dissecação aritmética. Ora se abrirmos o número 9 em 3 partes, descobrimos que 9 é 3x3, ou seja, 3+3+3, e é por isso que trazemos hoje aqui “Vol. 333”, isto é, o 3º álbum de um projecto tricotómico de 33 artistas. Na verdade, era de uma trindade que se tratava, pois houve 3 motores nesta criativa máquina de triplicar: Walter retlaW uaerdouB Boudreau, o motor musical de L’Infonie, Claude Edualk Ts-Nyamreg St-Germain, o seu contador delirante, e Raôul luôaR yaugud Duguay, o motor verbal, o poeta. Este furor criativo começou no KébèK (Québec) no ano de 1967 e durou até 1974, num happening contínuo que agregava todas as formas de expressão, todas as influências musicais, visuais, performativas, todos os modos de inspiração meditativa, psicotrópica e contra-cultural. O nome de L’Infonie quer dizer, na primeira parte, “dedans le fun qui sonne” (dentro do fun que ressoa) ou loucura criadora; na segunda parte, “sinfonia interior”; na terceira, “música do infinito”. Os seus autores afirmavam-se herdeiros do movimento artístico e intelectual liderado por Paul-Émile Borduas, que a 9 de Agosto de 1948 escrevera o manifesto anti-establishment e anti-religioso “Le Refus Global”, fonte de inspiração para a “anarquia resplandecente” de L’Infonie, mas em vez de uma “recusa global” tratava-se agora de uma aceitação positiva e totalisante de todos os elementos culturais e expressivos que compunham esta roda triangular. Os seus discos revelavam uma liturgia psicadélica, um desejo sarcástico de agregação, uma dinâmica esquizóide de triangulação temporal. Aliás, o curriculum vitae que conta a história – nascimento, evolução e fim – deste projecto pode ser consultado numa antologia de 333 páginas e 3/3, ilustrada com 33 imagens (preto, branco e cor).

Vol. 333 é composto de 2 LP, que libertam poesia, canto, jazz, Bach, teatro de rua, experimentação acústica e radiofónica, instrumentos clássicos convencionais ou preparados, sarcasticamente envolvidos numa suite eucarística, com elementos concertantes e dissonantes. A audição destes discos exige por vezes uma escuta activa, noutras permite o relaxamento dos ouvidos. Seleccionámos, numa missão impossível de mostrar a variedade e riqueza deste projecto, o “Prelude”, 1ª faixa do 1º disco que abre com uma explosão orquestral que adormece lentamente numa improvisação jazzística e se apaga num cluster de órgão; “Prelude XXII”, do 2º disco, onde um momento bachiano se dissolve numa viagem burlesca pelo vaudeville de província; por fim, ouviremos apenas um excerto de “La Toune Platte”, a última faixa do álbum, com um pouco de jazz e drama. Usemos então os nossos três ouvidos para escutar, pois “o primeiro ouvido tudo dividiu, o segundo ouvido tudo multiplicou, [e] o terceiro ouvido tudo unificou”.



Tracklist:

LP 1 (Paix 1 à 50)

1. Prélude (2:56)
2. Section 1-17 (10:52)
3. Section 18 (6:37)
4. Section 19-23 (3:19)
5. Section 24-30 (8:43)
6. Section 31-32 (1:11)
7. Section 33-50 (9:12)

LP 2

1. Concerto en Ré Mineur (Allegro) (8:18)
2. Concerto en Ré Mineur (Adagio) (6:15)
3. Prélude XXII (6:53)
4. Kyrie (5:15)
5. Ubiquital (9:15)
6. La Toune Platte (10:04)

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