Thursday, December 28, 2006



DIE LISTE #6

Checkpoint Charlie
“Gruß Gott mit Hellem Klang” (1970)


No entroncamento entre as Friedrichstraße, Zimmerstraße e Mauerstraße, no bairro de Friedrichstadt, no coração de Berlim, aí mesmo onde crescera o muro, situava-se, durante a Guerra Fria, o Checkpoint Charlie, ponto de passagem famoso entre o Este e o Oeste. Este símbolo da separação entre os blocos, que usa na sua denominação o alfabeto fonético da NATO, foi a inspiração para o alegado primeiro grupo de rock político da Alemanha, precisamente, os Checkpoint Charlie. Oriundos de Karlsruhe, no sudoeste da Alemanha, começaram desde 1967 a agitar mentalidades, cantando em alemão um rock agressivo e empenhado politicamente, ao lado de grupos como Floh de Cologne e Ton Steine Scherben (cujos discos também se incluem na Lista). Mais extremos na atitude política radical e nas suas performances expressivas do que na qualidade das suas composições e interpretações musicais (que aliás não são requisitos do rock mais irreverente), gravaram o primeiro disco em 1970: “Gruß Gott mit Hellem Klang” (Saudando Deus com um som luminoso). O disco compõe-se de duas faixas apenas, ou seja, os lados A e B do LP, onde segmentos de rock caótico se entremeiam com exortações, blasfémias e gritos anarquistas, por vezes lembrando um drama pascal ou um oratório, mas corrompidos pela violência vociferante e obscena de Uwe von Trotha e Harald Linder, pelas guitarras de Malte Bremner e Werner Walten, pela bateria furiosa e nem sempre compassada de Werner Heß e por erupções psicadelizantes do orgão de Joachim Krebs. Anos mais tarde o grupo evoluiu musicalmente para composições mais complexas e instrumentalmente mais interessantes, introduzindo os teclados de forma significativa e longas secções puramente instrumentais, cortejando com os gostos mais “convencionais” do rock progressivo, mas nunca se comprometendo politicamente, mesmo durante os conservadores anos 80.

Tracklist:
Side A (18:34)
Side B (20:22)

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Wednesday, December 27, 2006

A edição de Kosmos! do dia 27 de Dezembro não percorreu as ondas hertzianas, como é habitual nas madrugadas de 3ª para 4ª feira. Apesar da época ser propícia a subterfúgios, a verdade é que o kosmos! esteve para ser emitido em piloto automático, mas devido a falha humana do tripulante de serviço, tal não se afigurou possível. As consequências de uma semana sem audições kraut/kosmische serão imprevisíveis.

Monday, December 25, 2006


Planetarische Umlaufbahn #4 ASH RA TEMPEL

Quando Manuel Göttching e Hartmut Henke se juntavam em Berlim para tocarem alguns êxitos pop-rock da década de 60, certamente não mais do que energia adolescencial preenchia os seus horizontes. A verdade é que anos mais tarde, já após a eclosão embrionária de Steeple Chase Blues Band e em plena vertigem da produção musical da Alemanha na primeira metade da década de 70, Göttching e Henke lideravam os Ash Ra Tempel, ícones da experimentação psicadélica do krautrock.
No verão de 1970, enquanto aprendizes de composição experimental com o compositor avant-garde Thomas Kessler, o duo atrás referido conhece Klaus Schulze, então estudante e baterista com forte vocação experimental - ou não tivesse acabado de passar pela órbita dos Tangerine Dream. Formam, então como trio, o primeiro alinhamento oficial dos Ash Ra Tempel, fascinando com os seus intermináveis e inovadores concertos, alguns documentados em "The private tapes".
O primeiro disco surge em Março do ano seguinte, gravado em Hamburgo com produção do influente Konrad "Conny" Plank e editado pela Ohr, uma das mais importantes editoras da época na Alemanha, que tinha em Rolf-Ulrich Kaiser o seu mentor. O disco, homónimo, teve a original capa de abrir ao meio, em cartão, evocando um portão de um templo egípcio. Curioso o facto de o disco, com apenas dois temas (um de cada lado do vinil), apresentar um lado mais poderoso ("Amboss") e outro mais meditativo e flutuante ("Traummaschine") - conceito que, de resto, esteve presente nos quatro primeiros álbuns do grupo; a excepção deu-se com "Starring Rosi".
Um ano depois é editado "Schwingungen" (vibrações). Trata-se de um registo mais estruturado e que contou com alterações no alinhamento do grupo, que, aliás, se sucederam na história do grupo: Schulze saíu (um abandono temporário, para gravar o seu primeiro trabalho a solo, "Irrlicht"), entrando Wolfgang Muller para a bateria - um "regresso", pois pertencera aos Steeple Chase Blues Band; John L., entretanto despedido dos Agitation Free devido aos seus devaneios "freak" a la LSD, deu a voz em "Light and darkness". Após a gravação do disco, Muller abandonou o grupo, que se expandiu com Micky Duwe, Dietmar Burmeister e Steve Schroder (ex-Tangerine Dream). É durante este período que o grupo grava o célebre "Seven Up" com a colaboração do guru da contraculturaTimothy Leary, entretanto na Suíça, "fugido" dos EUA. Pela sua singularidade, o Kosmos! decerto integrará este trabalho numa destacada órbita.
No final do profícuo e atribulado ano de 1972 chega "Join Inn". Gravado na ressaca de "Seven Up" e na órbita das sessões dos Cosmic Jokers e de Walter Wegmüller, conta com o regresso pontual de Klaus Schulze e com a colaboração de Rosi Muller, então namorada de Gottching e que em "Jenseits" recita delicadamente as alucinadas experiências com o Dr. Leary. Rosi intitula o álbum seguinte, "Staring Rosi", que aproxima os Ash Ra Tempel de um trabalho mais harmonioso e convencional e que contou com nova reestruturação do alinhamento do grupo. Este trabalho marcou um ponto de viragem, já que, após a sua edição, o grupo ficou numericamente reduzido ao virtuosismo multi-instrumental de Manuel Göttchhing. A partir daqui os álbuns são a solo, "Inventions for Electric Guitar" (guitarra e manipulações de loops de cassetes a diferentes velocidades - que, no universo kraut, havia já sido experimentado pelos Neu! em Nue!2 ), "New Age of Earth" (sintetizadores, ou o legado de Schulze) e a banda sonora do filme de Philippe Carrel "Le Berceau de Cristal". As portas do "new age" estavam abertas, tal como dos Ashra, denominação posterior da associação de Göttching a Lutz Ulbrich e Harald Grosskopf.
Pode dizer-se que os Ash Ra Tempel transportaram muita da vitalidade do Krautrock, pela exuberância da sua abordagem musical, pela inovação, pela promiscuidade, pela imprevisibilidade, pelo risco.

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Friday, December 22, 2006

PLANETEN SESSION IV (20.12.2006)

Ash Ra Tempel - "Amboss" (exct.) (Ash Ra Tempel, 1971)
Ash Ra Tempel - "Such and Liebe" (exct.) (Schwingungen, 1972)

DIE LISTE #6 (Checkpoint Charlie)

Can - "Vernal Equinox" (Landed, 1975)
Ash Ra Tempel - "Laughter Loving" (Starring Rossi, 1973)
Ash Ra Tempel - "Schizo" (Starring Rossi, 1973)

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Monday, December 18, 2006

Planetarische Umlaufbahn #3 FAUST V

As histórias que aqui trazemos não são só feitas de personagens pouco comuns, de músicos desconhecidos, ou de comunidades obscuras, mas também de registos discográficos de grupos notáveis que cairam no mais completo esquecimento. Já aqui tivemos a oportunidade de rever os dois primeiros discos de Kraftwerk ("I" & "II"), que Ralf Hutter e Florian Schneider obstinadamente se recusam a incluir na discografia oficial dos quatro cavaleiros do apocalipse robótico. Para além destes, poderíamos referenciar "Tone Float", um disco que gravaram quando ainda se chamavam Organisation, e que ainda menos pessoas associam aos alemães.
A órbita planetária que aqui descrevemos conduz-nos ao album perdido de um dos mais míticos grupos de sempre, estatuto que lhes foi atribuído nos sábios ditames de Julian Cope. Os Faust são a criação de Uwe Nettlebeck, produtor e jornalista musical, que a pedido da Polydor, juntou um conjunto de músicos desconhecidos com o objectivo de criar uma entidade que rivalizasse com os Can ou os Kraftwerk nas vendas de discos. 1971 é o ano zero para a formação composta por Hans Joachim Irmler, Jean Hervé Peron, Werner "Zappi" Diermaier, Rudolf Sosna, Gunther Wusthoff, e Armulf Meifert, que no isolamento do seu estúdio em Wümme criam dois discos, "Faust" (1971) e "Faust So Far" (1972), sobre os quais não nos alongaremos por razões de brevidade.
A história e a literatura são exemplares em descrever situações nas quais as criações se voltam contra os seus criadores. Na verdade, os Faust nunca se encaixaram na categoria que lhes havia sido predestinada, optando por uma via experimentalista totalmente incompatível com os interesses financeiros que assistiram à sua formação. O grupo acaba por deixar a Polydor que havia financiado a construção do estúdio em Wümme e, tal como o doutor da obra de Goethe, vende a sua alma a Richard Branson, proprietário da Virgin Records. O ano de 1973 é marcado pelo lançamento de "The Faust Tapes", o disco que acabou por lhes abrir as portas ao público das ilhas britânicas. Os Faust atravessavam o Canal da Mancha, efectuando um caminho já trilhado por outros grupos alemães da época. Esta ampla divulgação deveu-se a uma estratégia de marketing verdadeiramente inovadora, que consistia muito simplesmente em vender o album ao preço da chuva, mais precisamente a o.5£. As vendas ascenderam aos 50.000 exemplares, o que, apesar do preço, não deixa de ser um feito considerável, se tivermos em conta a bizarria e o experimentalismo patentes nos 43 esquizofrénicos minutos de cortes e colagens sonoras que compõem o disco. Seguiu-se o falhanço comercial de "Faust IV", um registo bem mais convencional onde predominam faixas de curta duração (excluindo o tema de abertura, "Krautrock", que contabiliza 12 minutos) e uma maior utilização de vocalizações.
Em 1974, cansados das constantes digressões, os Faust tiram um ano de sabática em Munique para gravarem o seu quinto album nos estúdios Arabelle de Giorgio Moroder, mas Branson corta relações com o grupo e a confusão instala-se. Jean Herve-Peron apresenta a sua versão da história:

I have no idea how the others managed to get to Munich -- we were all very broke -- but we got to the Arabella and everything seemed fine: Ruud (Bosma) and Joachim had convinced the Arabella management that we were legitimate, and soon we were sitting in the Arabella dining room, happy to meet again after all this time. Rudolf was there, Kurt was there, our dogs were there (they ate the whole time, only the best... and put it on the room bill please, dankeschon); everybody was there.

But, you can imagine, this could not go on forever. After a while (over a week) Arabella got nervous, and then more nervous by the day - until even the sweetest smile from Ruud and the smoothest talk from Joachim could not help us. Who is to pay this huge bill? Panic. Faxes to Virgin -- because we were, in a way, still under contract. They should be pleased that we offer them a master tape of our genial music. But no, Richard didn't even want to listen to our genial music. More panic. Kurt had already discretely left. So, let's rescue the equipment and the tapes at least. We sneaked the equipment and tapes out into the BRS and Ruud and Günther hopped in and... go... run for freedom... speeding gangster-wise through the Arabella grounds, knocking down the closing gates of the parking lot and -- yes, hurrah, they were through!

Like captains in a sinking ship, Joachim, Rudolf and I (where the hell is Zappi?) stayed back to do battle. We were arrested, humiliated (how could anyone not realize the importance of these recordings? Pah!) and no, we none of us had one single pfennig, neither in our pockets nor in the bank, so hang us, torture us, sell our bones to our fans, do what you want with us, but -- please, we're hungry and can't we just talk about this over a nice bottle?
The non-funny, non-heroic end of this story was that Joachim's and Rudolf's mamas bailed us our and paid the bills to save their cherished progeniture. Thank you Mrs. Irmler, thank you Mrs. Sosna.

A Virgin acabou por fazer circular uma cassete promocional das sessões, que apesar da má qualidade do som, apresenta os caracteres distintivos dos Faust. Estes entraram em período de hibernação, ressurgindo nos anos 90 com novos albums de estúdio e múltiplas colaborações com outros músicos. Ao que parece, nunca chegaram a vender a alma...

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Wednesday, December 13, 2006


DIE LISTE #5

Comus – “First Utterance” (1971)

Comus era uma figura mitológica para gregos e romanos, filho de Diónisos (Baco) e Circe, um sátiro que simbolizava o espírito de rebeldia, das festas e os pequenos prazeres ociosos e eróticos, as tentações pastorais num masque de John Milton de 1634 com o mesmo nome, que foi provavelmente a inspiração poética das composições de Roger Wootton nesse primeiro disco, “First Utterance”, de 1971, selecção da crónica desta semana. As guitarras acústicas, a doce voz de Bobbie Watson, as pandeiretas, as flautas e os oboés criam um ambiente pastoril e bucólico, violentamente desflorado pelos gritos torturados de Roger Wootton e desencantado pelas letras melancólicas deste arauto do que um dia viria a chamar-se “dark folk”. “Diana”, também uma alusão à deusa romana da caça, da lua e da castidade, foi o single que serviu para abrir este álbum e que daria mais tarde o mote aos Current 93 para o seu “Horsey”. Os britânicos Comus tiveram uma breve carreira nos inícios da década de 70, de onde saíram dois álbuns, “First Utterance”, que acabámos de referir, e “To Keep from Crying” de 1974, que é uma decepção em relação ao genial início editorial da banda. Apesar do pouco sucesso que tiveram na década de setenta, talvez por serem demasiado esquizofrénicos para satisfazerem o público tradicional do folk (Roger Wootton esteve de facto internado várias vezes em sanatórios), ou com melodias e arranjos muito subtis e sofisticados para agradar ao público do hard rock, conseguiram gerar uma espécie de culto tardio que muito se deve às homenagens do grupo de metal progressivo Opeth e à versão de “Diana” feita pelos Current 93, já nos anos 90, para não falar do próprio mérito desta lista dos Nurse With Wound que contribuiu para ressuscitar o interesse por este produto heterodoxo do acid folk britânico.
No programa, escutámos “Diana” e “Song to Comus”. Ambas inspiradas pelo universo pagão da peça de John Milton, mas também pelo seu tema, a castidade feminina tentada no bosque selvagem (“Wilde wood”) pelo sátiro encantador, Comus. Musicalmente, trata-se de composições e arranjos elaborados com mestria e subtileza e de uma intepretação que oscila entre a candura e a perversão.


Track list:
1. Diana (4:40)
2. The herald (12:21)
3. Drip drip (11:09)
4. Song to Comus (7:36)
5. The bite (5:32)
6. Bitten (2:18)
7. The prisoner (6:25)

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PLANETEN SESSION III (13.12.06)

Faust - "Trium-pet" (Faust V, nunca editado)
Faust - "Track 1" (Faust V, nunca editado)

DIE LISTE #5 (Comus)

Brainstorm - "Snakeskin tango" (Smile a while, 1972)
Brainstorm - "Smile a while" (Smile e while, 1972)
Faust - "Duck a l'orange" (Faust V, nunca editado)

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Wednesday, December 06, 2006


Planetarische Umlaufbahn #2 BRÖSELMASCHINE

Este pode muito bem ser um dos lados mais suaves da produção musical que se fez pela Alemanha entre finais da década de 60 e de 70. Bröselmaschine, o nome da órbita em destaque, também nome do disco, único, pautado por melodias plenas de delicadeza e lançado pela Pilz em 1971.
Die Bröselaschine formaram-se em Duisburgo em 1968, onde viveram como comuna - como convinha, aliás, a alguém que se inspirava na tradição folk "naif" da época. As canções híbridas de folk colm arranjos de travo psicadélico, eram lideradas pelo virtuosismo suave de Peter Bursch na guitarra acústica, que aliava a técnica a um sentido teórico apurado, a crer pelos livros que lançou na época sobre a matéria. Se todo o disco se reveste desta atmosfera, o tema "Schmetterling" é um bom exemplo do tom espacial conferido pelo Mellotron (a cargo de Dieter Dierks) e por "drones" de cítara, criando exóticos motivos cósmicos, enquadrado pela voz etérea de Jenni Schücker, flauta e percussões indianas.
De sublinhar a precisão distintiva da produção, que teve o cunho de Ralf Ulrich Kaiser (com engenharia sonora para Dieter Dierks): a criatividade solta aliada a ventos do Norte, conferindo-lhe a sugestão teutónica.
O grupo desmembrou-se pouco depois do álbum ver a luz do dia: e se alguns elementos do grupo partiram para a Índia, Peter Bursch fez reencarnar os Bröselmaschine. Em 1976, Peter Bursch und die Bröselmaschine trouxeram uma sonoridade diferente: mais rock e menos folk (facto a que não é alheio a participação dos elementos dos Guru Guru, Mani Neumeier na percussão e Roland Schaeffer no baixo, e de Jan Fride, dos Kraan, na bateria. O disco em questão revela-se mais pulsante, com a técnica de Bursch a manter-se irrepreensível, tal como a inspiração étnica indiana, trazida por um amigo de Düsseldorf.

(Planeten sessions)


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DIE LISTE #4

Cromagnon – “Orgasm” (1969)

“categories strain, crack and sometimes break, under their burden - step out of the space provided” esta é a frase em epígrafe da famosa lista que temos vindo a explorar e é concerteza o seu motto. O disco que seleccionámos hoje desafia qualquer categorização, ainda que pelo contexto em que surgiu seja preguiçosa e facilmente lançado para o arquivo das experiências psicadélicas. Não duvidamos que Austin Grasmere e Brian Elliot, autores de sucessos no American Top 40, tivessem abusado de alguns factores psicotrópicos, porém isso não chegaria para explicar a bizarria materializada em “Orgasm”, o disco gravado no inverno de 1968 e editado logo depois pela célebre ESP-Disk de Nova Iorque. O atavismo tribal das percussões mistura-se com a afasia libidinosa de inspiração neo-dadaísta dos Cromagnon em faixas como “Ritual Feast of the Libido” ou “Organic Sundown”, mas noutros momentos do disco são as ondas de rádio que prefaceiam marchas furiosas com gaitas de foles ou colagens de ruídos eléctricos, sirenes, risos histéricos, onde não faltam também violas acústicas e experiências de estúdio, para já não falar da monodia ao estilo gregoriano, mas em inglês e sobre fundo de solo de guitarra eléctrica em “First world of Bronze”. A primeira faixa do lado A do LP, denominada “Caledonia”, que ouviremos de seguida, é repetida no lado B a um terço da velocidade em “Toth, scribe I”. Não fosse sabermos que o disco havia sido gravado no fim dos anos 60 e facilmente cometeríamos o anacronismo de classificarmos de industriais estas faixas. E não causa qualquer espanto que os escoseses Test Department tenham de facto feito, décadas mais tarde, uma versão de “Caledonia”.
Evidentemente, este não é um disco “kraut”, mas um dos objectivos desta crónica é precisamente mostrar o ambiente experimentalista e vanguardista contemporâneo que se viveu um pouco por todo lado, e neste caso também na costa leste dos Estados Unidos, desde finais de 60 até inícios de 80.
Vamos escutar as faixas “Caledonia”, a que já nos referimos, e “Fantasy”, uma colagem heteróclita de canto “a capella”, gargalhadas estereofónicas, alarmes e hinos embriagados à liberdade do homem.

Track list:
1.Caledonia (4:21)
2. Ritual Feast of the Libido (3:26)
3. Organic Sundown (7:10)
4. Fantasy (7:19)
5. Crow of the Black Tree (9:40)
6. Genitalia (2:45)
7. Toth, Scribe I (10:38)
8. First World of Bronze (2:47)

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PLANETEN SESSION II (06.12.06)

Bröselmaschine - "Schmetterling" (Bröselmaschine, 1971)
Peter Bursch und die Bröselmaschine - "Wayfaring stranger" (Bröselmaschine 2)

DIE LISTE #4 (Cromagnon)

Kraftwerk - "Heavy metal kids" (exct.) (Nunca editado, 1971)
Can - "The million game" (Nunca editado, 1971)
Bröselmaschine - "Nossa Bova" (Bröselmaschine, 1971)

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Monday, December 04, 2006

Planetarische Umlaufbahn #1 SAND

Os Sand são uma das singularidades discográficas dos anos 70, com um álbum de originais gravado em 1974, que possivelmente teria caído na completa obscuridade não o fosse David Tibet (Current 93) ter desenterrado da colecção privada de Steven Stapleton (Nurse With Wound). Originalmente apelidados de Part of Time, os Sand provêm da pequena cidade de Bodenwerder, no noroeste da Alemanha, e em 1970 eram compostos por Hannes Vester, pelos irmãos Papenberg, e por um par de outros músicos cuja identidade permanece desconhecida. Passado pouco tempo mudam-se para Colónia, onde encetam contactos com alguns membros dos Can e conhecem Klaus Schulze, que viria a ser determinante na sua breve carreira. 1972 constitui o ano das grandes mudanças. Vester viaja para Berlim com o objectivo de estudar psicologia, Ludwig e Ulrich Papenberg seguem as suas passadas, e é assim, na forma de um trio, que nascem oficialmente os Sand. Na capital alemã são expostos à cena musical experimental florescente bem como aos ideais políticos revolucionários em voga. Klaus Schulze, que por essa altura desenvolvia uma técnica de gravação inovadora, o Artificial Head Stereo Sound, em parceria com o engenheiro Manfred Schunke, e que mimetizava os efeitos surround dos sistemas de cinema caseiro actualmente omnipresentes, convida os Sand a gravarem um disco para “publicitar” este mecanismo. O álbum “Golem” acaba por sair em 1974 pela editora Delta-Acustic, como parte das séries Artificial Head. As sonoridades revolvem em torno de paisagens abstractas, onde se inclui o tema de abertura “Helicopter”, e de canções de carisma surreal, das quais sublinhamos “May Rain”, posteriormente alvo de uma versão por parte dos Current 93. Após a separação definitiva em 1975, Hannes Vester prossegue a sua carreira musical gravando “Born to Dawn” com o projecto a solo Joahnnes Vester and His Vester Bester Tester Electric Folk Orchestra, Apesar de contar mais uma vez com o auxílio de Schulze, e do seu Artficial Head, as gravações não chegaram a ser editadas na altura. Teríamos que esperar 20 anos até que “Born to Dawn” visse nascer a luz do dia.

Esta oportunidade surgiu 1996 com uma reedição luxuosa pela World Serpent, que continha o primeiro e único disco dos Sand, algumas versões e excertos não utilizados nesse registo, bem como as referidas gravações do projecto solitário de Vester. Um disco verdadeiramente prodigioso, se me é permitida a expressão, para escutar activamente, sem distracções.

(Planeten Sessions)

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Friday, December 01, 2006


DIE LISTE #3

Zweinstein - "Trip/Flip Out/Meditation" (1970)

O último nome da lista é Zweistein: um projecto obscuro, cujas histórias contraditórias, aliadas à sua natureza vanguardista e experimental, geraram um certo culto e fizeram subir o valor dos raros exemplares que se podem encontrar de Trip/Flip Out/Meditation, editado estranhamente pela Phillips em 1970. Trata-se de um triplo LP onde cada disco é dedicado a uma das três alegadas fases de uma “trip” psicadélica, construído a partir de colagens de paisagens sonoras, sons electrónicos e manipulações recheadas de efeitos de estúdio e estranhas vozes transformadas. O nome é uma homenagem lúdica ao génio: depois de Einstein segue-se numericamente Zweistein. Tudo isto é dado como sendo da autoria de um tal Jacques Dorian que afinal não é senão um pseudónimo de Suzanne Doucet, uma cantora pop e apresentadora de televisão alemã com vontade de fazer algo mais experimental mas que usou um nome falso para que a experiência de kraut psicadélico não afectasse a sua carreira de cançonetista. A cantora gravou o álbum inteiro com a ajuda da sua meia-irmã, Diane Doucet, e de algumas drogas psicadélicas muito em voga na época. Para alguns, o álbum é uma mera perda de tempo, uma amálgama de sons sem direcção musical, para outros, um disco notável de experimentações e vanguardismos “kraut”. Seleccionámos um excerto do lado A do terceiro disco, “Point”: dedicado à fase meditativa da “trip”, começa com uma fantasia atómica que explora sons electrónicos, derivando depois para uma atmosfera mais onírica que reporta a uma viagem de comboio pelas memórias de infância. Do sentido da última frase, porém, só a audição do excerto permitirá o juízo, pelo que o melhor é ficar com os sons e quem tiver dúvidas pode consultar o nosso blog kosmos-ruc.blogspot.com, onde em breve poderão consultar a lista de faixas e mais informação sobre este disco: Unmasking A Legend: Zweistein Revealed

Track list:
1. IN (19:52)
a) beginning
b) analysis of tune
c) to hear inside
d) a very simple song

2. OUT (16:59)
a) misty tour
b) water sound
c) television
d) organ dreams (a very simple song)

3. WRONG (18:03)
a) children's golden dream
b) to become a child
c) children's golden dream

4. RIGHT (18:02)
a) everything returns
b) indian child
c) the theory of relativity

5. POINT (18:08)
a) atomical fantasy (electronic)
b) incarnation
c) childhood's church
d) life train
e) dream of love and death
f) atomical fantasy

6. CIRCLE (15:14)
a) verdi's soul born again
b) mind beat
c) himalaya's way
d) heaven bridge
e) out of time
f) atomical fade out

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PLANETEN SESSION I (29.11.06)

Sand - "Helicopter" (Ultrasonic Seraphim, 1996)
Sand - "May Rain" (Ultrasonic Seraphim, 1996)

DIE LISTE #3 (Zweinstein)

Dzyan - "Emptiness" (Dzyan, 1972)
Can - "Vitamin C" (Ege Bamyasi, 1972)
Sand - "Sarah, pt. 1 & 2" (Ultrasonic Seraphim, 1996)

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