Thursday, February 01, 2007


DIE LISTE #11

Robert Wyatt – “The End of an Ear” (1971)

Já por várias vezes aludimos ao carácter inclassificável dos álbuns da lista que fomos seleccionando. Aliás, foi a sua natureza de excepção que lhes valeu a inclusão nesta lista heteróclita. E este é mais um caso flagrante onde a excepcionalidade não foge à regra. É o primeiro álbum a solo de Robert Wyatt e o mais experimental. Ora, se atentarmos na carreira deste músico ímpar na história do rock, a última afirmação ganha particular impacto. Pois trata-se do baterista e vocalista, elemento fundador, em meados dos anos 60, do seminal grupo de Canterbury, Wilde Flowers e, poucos anos depois, dos - ainda mais influentes desbravadores de caminhos - Soft Machine (ao lado de Kevin Ayers). Isto significa que foi uma das figuras de proa da “Cena de Canterbury” (ou do “Som de Canterbury”), onde a liberdade de improvisação do jazz contagiou o rock pós-psicadélico inglês e a erudita formação dos músicos permitiu a composição inteligente de longas e complexas estruturas harmónicas, sem fugir completamente à melodia. “The End of an Ear”, de 1971 - ano em que Wyatt se preparava para deixar os Soft Machine - capitalizou essa experiência progressiva e jazzística do rock, mas, mais que isso, abriu virtualidades criativas com a utilização de efeitos de estúdio e manipulação da fita magnética, desconstruindo os métodos de composição e gravação de um álbum. Para além disso, o experimentalismo deste disco anunciava, no início dos anos 70, a reacção contra-corrente do “Rock in Opposition” do final da década.

O disco abre com um “fade in” de onde surge uma elaboração livre sobre um famoso tema de Gil Evans, “Las Vegas Tango”, e fecha circularmente com outra decomposição do mesmo tema. São as únicas faixas do álbum onde se ouve a voz de Robert Wyatt, que é, porém, usada como um instrumento de jazz e material sonoro concreto para a desmultiplicação em estúdio de várias camadas numa estrutura complexa de composição, em vez de ser uma verbalização da melodia. Delas escutaremos a primeira, onde um encantamento melancólico faz, paradoxalmente, par com a alegria musical da criação num tango nostálgico. O resto do disco são fragmentos experimentais, onde Wyatt mostra os seus talentos de multi-instrumentista, dedicados a cada um dos seus colegas da era de Canterbury, o que parece fazer deste disco uma despedida, quando, de facto, anuncia tantos anos de criatividade intensa. Ouviremos desde já, a oferta musical “To Mark Everywhere”, onde Wyatt põe as suas qualidades de baterista ao serviço da experimentação.

Tracklist:

1. Las Vagas Tango Part 1 (8:13)
2. To Mark Everywhere (2:26)
3. To saintly Bridget (2:22)
4. To Oz Alian Daevid and Gilly (2:09)
5. To Nick Everyone (9:15)
6. To Caravan and Brother Jim (5:22)
7. To the old World (Thank you for the use of your body, Goodbye) (3:18)
8. To Carla Marsha and Caroline (For making everything beautifuller) (2:47)
9. Las Vagas Tango part 1 (11:07)

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