Saturday, February 10, 2007

PLANETARISCHE UMLAUFBAHN #8 – HARMONIA, MUSIK VON HARMONIA

Um belo exemplo de como a partir de rupturas, de mudanças de direcção, de crises, se podem proporcionar sinergias criativas notáveis. Musik von Harmonia, o primeiro disco dos Harmonia, personifica esta nota introdutória. Metaforizados pela capa do disco, quiçá se possa equiparar os Harmonia a poderosos agentes de criação (ou de limpeza), ao ponto de Brian Eno lhes ter cunhado o epíteto de “mais importante grupo rock de todos os tempos”. Curiosa também a leitura que poderá ser feita para a evolução verificada nos projectos depois retomados pelos elementos do grupo…
O trio constituído por Dieter Moebius, Hans-Joachim Roedelius e Michael Rother foi um enclave musical comprometido entre os Cluster dos dois primeiros e os Neu!, que Rother entretanto abandonara. A dupla Moebius e Roedelius lançara os dois primeiros discos dos Cluster e, no Verão de 1973, encontravam-se num ponto de bifurcação relativamente ao que tinha sido o seu percurso – o álbum seguinte, “Zuckerzeit”, é um claro exemplo denunciador da influência que os Harmonia deixaram nos Cluster, ou não tivesse sido produzido por Michael Rother…. A partilha da Brain como editora e de Conny Plank como co-produtor foram factores certamente importantes para que a separação dos Neu! fosse aproveitada por Rother para se juntar aos Cluster.
Em Forst, refúgio rural onde os Cluster tinham acabado de construir o seu estúdio, o trio potenciou, no fundo, as coordenadas distintivas que os caracterizavam. Em Musik von Harmonia encontram-se as atmosferas electrónicas espaciais e abstractas dos Cluster (“Sehr Kosmische”, “Ohrwurm”) e o ritmo motórico-hipnótico dos Neu! (notoriamente perceptível em “Dine” e “Veterano”). Apesar de o disco se apresentar genericamente em rotação mecânica e repetitiva, a diversidade que dele ressalta transporta-nos até lugares feitos de iluminados e melódicos loops percussivos de rock electrónico, bem como em direcção a planantes texturas cósmicas de sintetizadores, teclados e piano.
Se é certo que a vanguarda do electro-pop possa bem ter aqui encontrado valiosos guias (“Watussi”, “Sonnenschein” e “Veterano”), foi a faceta etérea e ambiental dos Harmonia que fez com que a atenção de Brian Eno neles recaísse, encetando uma colaboração que deu frutos com o álbum “Tracks and Traces”.
É também pelo seu carácter ambíguo que o disco se torna fascinante: se quente e melódico, por vezes sombrio e sério, ou apenas a certeza de quem anunciou tempos futuros.

Labels:

2 Comments:

At 11:31 AM, Blogger Isabel Fidalgo said...

Maravilhoso...

 
At 11:31 AM, Blogger Isabel Fidalgo said...

This comment has been removed by the author.

 

Post a Comment

<< Home