Saturday, October 13, 2007


DIE LISTE #35

Costin Miereanu – “Luna Cinese” (1975)

A lista de NWW é composta, como já foi dito várias vezes, apenas por nomes de músicos ou grupos. No entanto, no culto que lhe tem sido feito ela foi já objecto de várias análises e especulações. Uma delas, à qual aderimos nestas crónicas, tem a ver com quais os discos desses músicos ou grupos que constariam efectivamente da fonoteca de Steven Stapleton. Porém, uma outra, ligada a esta, é possível e prende-se com as “etiquetas”, ou como se diz na gíria da discofilia, os “labels”. Assim as duas editoras com maior número de discos ou músicos a constarem da lista são: uma francesa, a Futura (de onde já se destacou aqui Fille qui Mousse), e a outra italiana, a Cramps, conhecida sobretudo por ter editado os discos dos Area e dos seus membros a solo, todos constantes da lista. Talvez seja por isso legítimo especular que muitos discos iriam parar à colecção pela “etiqueta” da sua editora. Pode ter sido isso que aconteceu precisamente com o disco seleccionado esta semana, editado pela Cramps, em 1975, com o nº 7 da série “Nova Musicha”, de que fazem parte aliás outros discos de Robert Ashley, Martin Davorin Jagodic ou Juan Hidalgo, mencionados também na lista, o que corrobora, em certa medida, esta mesma especulação. O disco chama-se “Luna Cinese” e o seu autor é o compositor de origem romena Costin Miereanu.
Trata-se de um compositor com uma carreira académica recheada de títulos e condecorações. Nascido em Bucareste em 1943, fez os seus estudos na Academia de Música da capital romena, onde logo recebeu primeiros prémios em todas as categorias da educação musical, tendo, entre 1967 e 1969, sido aluno de Karlheinz Stockhausen e György Ligeti, nos famosos cursos de verão em Darmstadt. Completou os seus estudos teóricos em Semiótica Musical e Filosofia, em Paris, onde em 1977 adquiriu a nacionalidade francesa. Doutorado em 1979, torna-se o professor catedrático da disciplina de Filosofia, Estética e Ciências da Arte, na prestigiada Universidade de Paris I - Sorbonne, a partir de 1981. A sua carreira continua em vários pontos da Europa como director de Centros de Investigação e como autor de livros e várias conferências sobre as novas músicas, nomeadamente nos próprios cursos de Darmstadt, na década de 80. Tem também uma vasta obra de composição para instrumentos a solo, orquestra, electro-acústica e outras tecnologias multimédia, tendo-se interessado por formas musicais cada vez mais complexas, desde o serialismo à música aleatória, passando pela música concreta, ao ponto de a sua acção criativa se desenvolver sobretudo na óptica de uma dramaturgia musical, onde toda a composição é uma “cenografia poliartística”, para utilizar a terminologia de alguns analistas.

O disco “Luna Cinese” parece corresponder à gravação de uma peça radiofónica em duas partes, que o próprio autor define como “um conto de ficção científica musical” num artigo publicado sobre essa mesma obra, na revista “Musique en jeu”. A peça é composta pela sobreposição de estratos ou camadas e colagem de segmentos com excertos de outra gravações, ora de composições orquestrais, ora de captações de som no exterior, ora ainda com a manipulação de fita magnética, instrumentos electrónicos e peças vocais multilinguísticas. Neste “conto” Miereanu desenvolve a sua concepção de “dramaturgia musical”, tomando os objectos sonoros e as suas estruturas como indícios de histórias fictícias, sem, no entanto, aderir a um programa, já que a sua postura vai no sentido de uma certa abstracção, antes actualizando e potenciando as virtualidades de um campo múltiplo de micro-eventos e estratos musicais, que convidam também a uma escuta activa por parte do ouvinte. Escutemos, pois, um excerto da “Parte prima” que preenche o Lado A do disco.

Tracklist:

Lado A
Parte Prima (Seconda) (20:49)


Lado B

Parte Seconda (Prima) (20:22)

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DIE LISTE #34

Gila – “Gila: Free Electric Sound” (1971)

“Unnachgiebiges aggressiv bekämpfen, ist kampf gegen sich selbst” é a frase repetida várias vezes no fim da segunda faixa de “Gila: Free Electric Sound” e é a que melhor exprime o espírito que concebeu este primeiro álbum dos Gila. Oriundos da comuna política de Stuttgart, os Gila Füchs, como se chamavam em 1969, data da sua fundação, praticavam um rock espacial e psicadélico na esteira dos Agitation Free, Ash Ra Tempel ou mesmo dos primeiros álbuns de Pink Floyd, colorindo as suas performances ao vivo com filmes, slides e alguma poesia. No verão de 1971, com a ajuda de Dieter Dierks, produziram o primeiro álbum de uma curta série binária, onde pretenderam exprimir a própria evolução do grupo: de uma atitude inicial mais agressiva e inflexível para uma forma mais equilibrada e generosa de comunicar através da música, pois, como diz a frase repetida, aquele primeiro combate não é senão uma luta contra si mesmo. Trata-se, pois, de um álbum conceptual que reflecte musicalmente a relação conflitual entre a natureza egoísta do indivíduo e a necessidade de a sua identidade se construir no meio social. A contra-capa do disco, editado em 1971 pela BASF, revela a mensagem, construindo-a num jogo de palavras com os títulos de cada faixa do álbum, para nos dizer que: a “agressão” impede a “comunicação” e leva ao “colapso” da consciência de si, que o Eu procura transformar de modo positivo ou negativo; [e] o Eu transformado positivamente aspira encontrar na “colectividade” a sua “individualidade” natural.
O disco usa uma significativa variedade de instrumentos e fórmulas musicais de um modo livre mas esteticamente coerente, reflectindo influências étnicas no uso que faz de tablas e gongos mas também no seu desapego a uma estrutura composicional fixa, sem no entanto deixar de mostrar um ímpeto vanguardista no modo como faz interagir aqueles instrumentos com a electrónica e as possibilidades retóricas do estúdio, tão bem trabalhadas por Dierks. Conny Veit, fundador do grupo e futuro membro dos Popol Vuh, assegura a consistência daquelas misturas com o seu excelente trabalho nas guitarras e nos efeitos da electrónica, que se combinam simbioticamente com o órgão e o mellotron de Fritz Scheyhing. “Agression” abre o disco com uma vaga de krautrock psicadélico, à qual se segue, até ao fim do lado A, a extensa faixa “Kommunikation” composta de divagações planantes e experimentações espaciais alimentadas pelos efeitos de estúdio, que culminam no mantra de auto-revelação já referido no início desta crónica. “Kollaps” começa o lado B com um tom lamentoso e misterioso, acentuado sobretudo pelo uso do órgão e do mellotron. “Kontakt” é uma peça mais experimental, com colagens sonoras e electrónica, mas que evolui rapidamente para uma disposição folk com inspiração oriental e a antecipar a futura evolução do projecto para o segundo álbum, que seria gravado em 1973. A mesma melodia é logo depois retomada em “Kollektivität” que evolui para uma deriva de improvisação rock mais livre e repetida na última faixa, “Individualität”, extremamente percussiva e tribal, quase hipnótica, onde não faltam as referências acústicas à vida selvagem de latitudes mais tropicais. Continuemos então com a faixa que está já em fundo: “Kommunikation”.

Tracklist:

A)
1. Aggression (4:33)

2. Kommunikation (12:47)

B)
3. Kollaps (5:30)
4. Kontakt (4:30)
5. Kollektivitat (6:40)
6. Individualitat (3:36)


Line-up:
- Daniel Alluno / drums, bongos, tabla - Fritz Scheyhing / organ, Mellotron, percussion, electronics - Conny Veit / guitars, voice, tabla, electronics - Walter Wiederkehr / bass

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DIE LISTE #33

Taj Mahal Travellers – “July 15, 1972” (1972)


(brevemente)






tracklist:

lado a)

THE TAJ-MAHAL TRAVELERS BETWEEN 6:20-6:46PM
l

ado b)

THE TAJ-MAHAL TRAVELERS BETWEEN 7:03-7:15PM

THE TAJ-MAHAL TRAVELERS BETWEEN 7:50-8:05PM

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DIE LISTE #32

Kollektiv Rote Rübe & Ton Steine Scherben – “Paranoia” (1976)


Espelho de uma época criativa e agitada em termos socio-políticos, a lista de NWW contém vários nomes de projectos politicamente muito conscientes, como aliás já pudemos constatar com os suecos International Harvester, o chileno Alvaro ou os alemães Checkpoint Charlie. O disco desta semana é mais um exemplo disso mesmo, desta vez, resultando de uma colaboração criativa entre dois grupos alemães: os Kollektiv Rote Rübe e os Ton Steine Scherben. Dos primeiros pouco se sabe, para além do facto de se tratar de um grupo de teatro de intervenção, sediado em Munique, que partilhava com o segundo a ideologia de esquerda, sobretudo nas suas expressões mais radicais. Tal como o grupo de Munique, mas bem mais conhecidos, os Ton Steine Scherben, originários de Berlim, foram um grupo musical bastante empenhado politicamente e liderado pelo controverso cantor Rio Reiser, que mais tarde viria a participar activamente na vida política do Partido dos Verdes e do PDS alemão, logo após a reunificação. Sobretudo conotados com a nova esquerda e o movimento “squat” (de ocupação dos muitos edifícios abandonados em Berlim), nos anos 70, as suas ideias anarquistas e anti-capitalistas aproximaram-nos numa primeira fase do grupo terrorista da RAF (a Rote Armee Fraktion ou Facção do Exército Vermelho, um grupo de guerrilha urbana comunista que nos primeiros tempos ficara conhecido como o grupo Baader-Meinhof). A sua popularidade junto dos grupos mais radicais foi mesmo empolada por algumas episódios lendários como a vez em que o palco onde actuavam começou a arder, alegadamente por acção do pessoal da segurança que havia sido alertado da fuga dos organizadores do evento com todas as receitas recolhidas. O grupo ficou ainda conhecido pelas causas que abraçou, para além da ecologia, a dos direitos de libertação da mulher e dos homossexuais. O título deste álbum e de um outro, também resultante de uma colaboração entre os dois grupos, “Liebe Töd Hysterie” de 1979, deixa adivinhar a influência das leituras psicanalíticas da líbido social, provavelmente, da Escola Crítica de Frankfurt.
Gravado em Munique, entre 1975 e 1976, mas misturado no Alsterstudio, em Hamburgo, por Richard Borowski, o álbum é composto de canções num estilo de cabaret de extrema esquerda, cuja composição é sobretudo da responsabilidade dos Ton Steine Scherben e a interpretação dramatizada do “Colectivo da Beterraba Vermelha”. Musicalmente, apresenta um estilo muito livre que vai da canção popular às experiências vanguardistas do Rock In Oposition, passando pelo “disco” e pelo drama radiofónico, encenado de uma forma teatral onde abundam os rasgos de histeria dramática, mas também alguma poesia. O tom dominante é revolucionário, o humor é negro e a táctica o choque, não faltando a versão do “Deutschland Über Alles” em guitarra eléctrica distorcida ou os discursos de Hitler entrecortados com tiradas anarquistas contra a burguesia e a sociedade capitalista. Escutemos a primeira faixa, a abertura cabaret do álbum; logo depois a quinta faixa, que dá o nome ao disco “Paranoia”, que parece ser uma metáfora pequeno-burguesa dos terrores da sociedade de controlo e que tem a particularidade de conter um dos “samples” utilizados por Steven Stapleton nos seus primeiros discos (“"Ich will nicht, Papa.."). Por fim, escutemos “Eine Tote zuviel” (“Uma morta a mais”), uma agressiva história de um assassínio parlamentar.

Tracklist:
01:Entree (3:13)

02+03:Manchmal wenn ich so dasitze (5:35)[sometimes when I sit there]

04:Nie wieder (0:47)[Never Again]/Die Zeiten sie ändern sich (0:43)[The Times are changing]

05:Paranoia (3:43)

06:Taifuns Traum (3:18)[Taifuns Dream]

07+08:Song der Hure Holly (4:11)

09:Das Paradies (1:10)[The Paradise]

10:Song der Emma P. (3:23)[Song of Emma P.]

11:Zeitmaschine (1:34)[timemachine]

12:Eine Tote zuviel (4:33)[One dead woman too much]

13:Horrormäuse (0:51)[horrormice]

14:Miss Lissy Lamour (3:09)


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DIE LISTE #31 Seesselberg – “Synthetik 1” (1973)

(Brevemente)







Tracklist:

1 Overtüre - "Jeder ist heutzutage gluecklich" (transl.: Everyone is nowadays lucky)
2 Eintrachtkreis-Paranoia (Die 200 jahrefeier findet nicht statt - kondominatsmusik 1973) (transl: Entreact Ring - Paranoia - the 200 year celebration does not take place - kondominatsmusik (?) 1973)
3 Verhuetungsfreudenwalzer (kontinenzmusik für eine Akademie 1973)
4 Speedy Achmed (verhaltensanweisung 1973)
5 Studentenzucker - "Tue gern, was Du tun musst!" (Konfektionsmuzik 1973) (transl: Act with pleasure what you must do)
6 "Die Menschen sind gluecklich, sie kriegen, was sie begehren, und begehren nichts, was sie nicht kriegen können - Laubsägebastler, Briefmarkensammler und Brieftaubenzüchter bilden das Rückgrat der Menschheit" (kondolenzmusik 1973)
7 Phoenix - 1972
8 "Was Dir heute Freude macht, das verschieb nicht Über Nacht!" (transl.: What does today joy to you, this do not shift overnight) (Kondensmusik aus einem Konzert im Gallery House London - 1973)
9 Auszug aus einem Konzert in der Duesseldorfer Kunsthalle 1971 (excerto de um concerto em Dusseldorf)

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DIE LISTE #30

Achim Reichel & Machines – “Echo” (1972)

“Echo”: tal como na semana passada, com “Samtvogel” de Günther Schickert, também este álbum, editado em 1972 pela Polydor, foi construído técnica e conceptualmente sobre os ecos de guitarra, entre outros ecos. Tal como a homónima ninfa da montanha nas “Metamorfoses” de Ovídio, também este “Echo” tem uma dimensão monstruosa e mitológica, não apenas pelo universo pagão que o habita, como pela extensão das faixas deste álbum duplo e pela orquestração quase sinfónica que anima os treze músicos que nele participaram, onde, para além do virtuoso guitarrista Achim Reichel, se destaca o não menos mítico Klaus Schulze, que inesperadamente se revela cantando. Achim Reichel não era na época nenhum desconhecido na cena musical de Hamburgo. Tendo sido um dos fundadores da banda pop The Rattles, já em 1963, que havia feito uma tourné com os Beatles, e depois formando os Wonderland. Bem, pelo contrário, esta aventura pelo krautrock e pela música mais experimental feita até meados dos anos 70, quando terminou este projecto A. R. & Machines, é que corresponde ao período mais obscuro e menos conhecido da carreira deste músico e actor. No entanto, estas explorações abriram novos caminhos e, sobretudo este “Echo” não fica nada a dever a outros gigantes do krautrock como os Ash Ra Tempel, que no mesmo ano lançaram o seu álbum “Schwingungen”.
Musicalmente, “Echo” respira o espírito psicadélico da época, o que é evidente ao escutar a exploração dos efeitos das câmaras de eco e de alguma electrónica, mas também nas “trips” mais improvisadas e até um pouco caóticas, num álbum que, no geral, respeita uma coerência estética interna. O que não impede, no entanto, que se reconheçam outras influências, do jazz ao acid folk e até à composição clássica, mas nada que espante numa época onde o espírito de fusão imperou. Começa com uma “Invitation” que instala o ritmo ecóico e a estrutura espiralada que atravessam os dois LPs, num ambiente cavernoso e de certa forma aquático. Depois seguem-se as quatro longas partes que exploram os ecos do tempo, no presente (primeira faixa do lado B), no futuro (lado A do segundo disco) e no passado (última faixa), sem esquecer “Das Echo der Zeit” (a segunda faixa do lado B no primeiro disco), que vamos escutar já de seguida, e que ecoa analéptica e prolepticamente a viagem no tempo de todo o álbum, com alusões mais psicadélicas nuns momentos e mais cósmicas noutros, mas sempre com uma intensidade e qualidade musicais que não poderiam passar despercebidos a Steven Stapleton e aos amantes do krautrock. Ouçamos, então, “O Eco do Tempo”.

Tracklist:

Side A

1. Invitation (20.32)

Side B

1. The Echo of the Present (10.08)
2. The Echo of Time (13.05)

Side C

1. The Echo of the Future (18.13)

Side D

1. The Echo of the Past (19.38)

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DIE LISTE #29

Günther Schickert – “Samtvogel” (1974)









(brevemente)

Tracklist:

1) Apricot Brandy - 6:06
2) Kriegsmaschinen, fahrt zur Hölle - 16:58
3) Wald - 21:35

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